Sucessor de Raisi na presidência do Irão será escolhido na segunda volta

O moderado Massoud Pezeshkian e o fundamentalista Saeed Jalili foram os candidatos mais votados nas eleições presidenciais em que a participação atingiu um mínimo histórico.

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Uma mulher iraniana deposita o seu voto em Teerão Majid Asgaripour / VIA REUTERS
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Massoud Pezeshkian, um moderado apoiado pelos reformistas, e Saeed Jalili, um protegido do Guia Supremo, vão disputar a presidência do Irão depois de uma primeira volta, realizada na sexta-feira, em que nenhum dos quatro candidatos obteve os votos suficientes para assegurar a vitória.

Dos 24,5 milhões de votos expressos na eleição destinada a ocupar o lugar deixado vago pela morte do Presidente Ebrahim Raisi num acidente de helicóptero, Pezeshkian obteve 10,4 milhões, enquanto Jalili recebeu 9,4 milhões. O presidente do Parlamento, Mohammad Bagher Qalibaf, obteve 3,3 milhões de votos e o clérigo xiita Mostafa Pourmohammadi ficou-se pelos 206 mil votos.

A lei iraniana exige que o vencedor obtenha mais de 50% dos votos expressos. Caso contrário, os dois candidatos mais votados passarão a uma segunda volta uma semana mais tarde. Na história do Irão, só houve uma segunda volta das eleições presidenciais: em 2005, quando o candidato da linha dura Mahmoud Ahmadinejad venceu o antigo Presidente Akbar Hashemi Rafsanjani.

O poder no Irão pertence, em última análise, ao Guia Supremo, o ayatollah Ali Khamenei, pelo que o resultado da segunda volta, marcada para 5 de Julho, não significará qualquer mudança política importante em relação ao programa nuclear do Irão ou ao seu apoio a grupos islamistas no Médio Oriente.

O poder clerical do Conselho dos Guardiões esperava uma grande afluência às urnas, uma vez que enfrenta uma crise de legitimidade alimentada pelo descontentamento da população face às dificuldades económicas e às restrições à liberdade política e social. No entanto, a participação na votação de sexta-feira atingiu um mínimo histórico de cerca de 40%, com base na contagem do Ministério do Interior divulgada este sábado.

Tendo em conta a idade - 85 anos - e o estado de saúde do Guia Supremo do Irão, é provável que o próximo Presidente esteja directamente envolvido no processo de escolha do sucessor de Khamenei, que procura um Presidente ferozmente leal que possa assegurar uma eventual sucessão sem problemas.

As opiniões anti-ocidentais de Jalili, antigo e intransigente negociador nuclear do Irão, contrastam com as de Pezeshkian. Os analistas afirmam que a vitória de Jalili, representante do Guia Supremo no Conselho de Segurança Nacional e tão fundamentalista que até Khamenei o considera perigoso, assinalaria a possibilidade de uma viragem ainda mais radical na política externa e interna da República Islâmica.

No entanto, a vitória do moderado Pezeshkian poderá contribuir para aliviar as tensões com o Ocidente e aumentar as possibilidades de reforma económica, liberalização social e pluralismo político.

Pezeshkian, que é, no entanto, fiel ao regime teocrático do Irão, é ainda assim apoiado pela facção reformista, que tem sido largamente marginalizada no Irão nos últimos anos.

“Respeitaremos a lei do hijab, mas nunca deverá haver qualquer comportamento intrusivo ou desumano para com as mulheres”, declarou Pezeshkian após ter votado.

Pezeshkian referia-se à morte, em 2022, de Mahsa Amini, a jovem de 22 anos detida pela "polícia da moralidade" por uso “incorrecto” do lenço islâmico e que desencadeou uma vaga de protestos por todo o país que foram violentamente reprimidos pelo regime.

O candidato moderado tentou reavivar o entusiasmo dos eleitores reformistas, que se mantiveram afastados das urnas durante os últimos quatro anos, com uma população maioritariamente jovem a mostrar-se ressentida com as restrições políticas e sociais. Na segunda volta, poderá beneficiar do facto de os seus rivais não terem conseguido consolidar o voto da linha dura.

Nas últimas semanas, os iranianos utilizaram amplamente o hashtag #ElectionCircus na rede social X, com alguns activistas nacionais e estrangeiros a apelarem ao boicote, afirmando que uma elevada taxa de participação só serviria para legitimar o regime da República Islâmica.

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