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Renato escreveu cartas a 50 amigos (e não só) durante um ano, porque Sharing is Caring
Renato enviou passagens do diário e fotografias durante um ano a 50 pessoas para fugir ao “scrolling infinito e à alienação”. Sharing is caring é o resultado.
Por um lado, o mundo virtual é útil – para comunicar, divulgar projectos, deixar uma marca, conversar com pessoas. Por outro, é um poço sem fundo do qual é difícil sair sem dedicar horas ao “scrolling infinito e à alienação”, acredita Renato Chorão, fotógrafo de 23 anos.
Para contrariar isso, passou um ano a juntar passagens do seu diário e fotografias, que enviou a 50 pessoas. Chamou ao projecto Sharing is Caring.
Começou com o fim da licenciatura, que lhe trocou as voltas. Assim que acabou o curso de fotografia no Instituto Politécnico de Tomar, foi viver para Lisboa. Não sabia se devia continuar a promover o seu trabalho fotográfico ou arranjar outro emprego. Acabou a trabalhar numa discoteca e a dinâmica com os amigos mudou. As rotinas alteraram-se e o contacto já não era o mesmo. Por isso, comprometeu-se a escrever mensalmente sobre os seus dias e a partilhá-los com 50 pessoas.
Muitos dos destinatários eram amigos, apesar de o contacto não ser regular. Outros eram só conhecidos, “mas com quem de alguma forma tinha relação ou alguma curiosidade sobre elas”, explica.
Os primeiros esboços do projecto contavam com textos sobre “deambulações do dia-a-dia”, “a forma como as via” e o que pensava sobre elas. “Fazia uma reflexão sobre esta fase da vida – de ser um jovem que acabou a faculdade e arranjou outro trabalho.”
De vez em quando respondiam-lhe. Foi o caso de André Godinho, realizador e amigo, que respondeu a 12 cartas como se lhe tivesse sido sugerido um tema: “A partir daí escrevia o que lhe apetecesse”.
E não eram só cartas. Por vezes, chegavam à sua caixa de correio postais, cartas com links de fotografias escritos à mão e polaroids. “Uma das pessoas que me respondeu foi um professor da faculdade. Ele respondeu-me a algumas cartas com uma polaroid presa num papel. O verso tinha uma palavra e o seu significado no dicionário”, descreve.
Sem contar, as respostas que recebeu ajudaram a mudar os moldes do Sharing is Caring e deram-lhe mais significado. “É muito gratificante perceber que as coisas que eu dizia levavam as pessoas a sítios muito diferentes, o que era muito interessante.”
Durante o processo, muitos planos tiveram de ser repensados. Afinal, enviar 50 cartas por correio era uma despesa demasiado grande. Por isso, e para não quebrar este compromisso, Renato recolheu as moradas, agarrou na bicicleta e distribuiu-as. As restantes foram para o posto de correio para poderem chegar ao Porto, Roménia, Países Baixos e Reino Unido.
“Tive de fazer um roteiro de todas as cartas que eu conseguia deixar em mãos. Nessas cartas acabava por fazer ilustrações com os nomes das pessoas. Essas referências acabaram também por fazer parte da publicação. De repente, o projecto acabou por ganhar outra identidade visual, além das fotografias e das cartas”, detalha.
Agora, Renato prepara-se para lançar o resultado do Sharing is Caring a 27 de Junho no Salto Lisboa. A publicação de autor traz um envelope que guarda os dois diários, as fotografias, respostas, fotos do processo e as referências descritas nas cartas que enviou.
Texto editado por Inês Chaíça