Quem vão ser os professores dos nossos filhos e netos?

A solução para resolver o problema da falta de professores ao longo do tempo passa, inevitavelmente, pelo rejuvenescimento da profissão.

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A solução para resolver o problema da falta de professores passa pelo rejuvenescimento da profissão Adriano Miranda/Reuters
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Criticar é fácil, mas neste momento a situação é tão crítica, que tenho dificuldade em criticar. Por uma razão muito simples: porque penso que, quando criticamos, devemos ser capazes de propor alternativas. E, se não disponho dessa capacidade, tenho pelo menos a clarividência de perceber que chegámos a uma situação de verdadeira emergência no sistema de ensino.

O grande problema é que tomámos consciência — provavelmente tarde demais — da dimensão do problema da falta de professores nas nossas escolas e, para agravar a situação, apercebemo-nos de que o pior ainda está para vir. Este problema ameaça tomar tamanhas proporções a curto prazo que, evidentemente, todos queremos soluções, de preferência rápidas, antes que os nossos filhos e netos fiquem sem professores.

Mas, neste caso, o cerne da questão reside na dificuldade em reverter a situação. E de o fazer não só no imediato, através de medidas de emergência destinadas a garantir o funcionamento das escolas nos próximos anos letivos, mas também de forma sustentável no tempo, para assegurar a viabilidade do sistema de ensino a médio e a longo prazo.

Diversas soluções agora apontadas parecem corresponder a medidas de emergência para tentar mitigar o problema da falta de professores no imediato, enquanto se procura ganhar tempo para encontrar uma solução duradoura que efetivamente permita colmatar as necessidades das nossas escolas de forma consistente. E atendendo à gravidade da situação, é efetivamente necessário ganhar tempo, tanto mais porque, na melhor das hipóteses, a formação de novos docentes para entrarem no sistema leva tempo.

É neste contexto que enquadro as soluções apresentadas no sentido de prolongar a carreira docente, de voltar a integrar os professores aposentados dos grupos de recrutamento mais carenciados ou de alocar horas extraordinárias aos professores com redução da componente letiva, devido ao facto de terem mais idade. Mas estas medidas têm diversas condicionantes: não só estão dependentes da vontade dos próprios, que chegam ao final da carreira desgastados, como vão contribuir para tornar ainda mais grisalha uma profissão já visivelmente envelhecida.

Contudo, a questão de fundo é que, não sendo seguro nem tão pouco muito provável que estas medidas permitam mitigar o problema, há uma coisa que é certa: não o vão resolver. Porque a solução para resolver o problema da falta de professores ao longo do tempo passa, inevitavelmente, pelo rejuvenescimento da profissão.

Neste sentido, é positiva a medida de atribuir uma bolsa a dois mil estudantes que ingressem em licenciaturas e mestrados de Ciências da Educação e Ensino, mas não deixa de parecer insuficiente para dar resposta a um cenário no qual se prevê um agravamento drástico da falta de professores nos próximos dez anos. Pode sempre argumentar-se que é a medida possível do ponto de vista orçamental, mas nunca será demais salientar que a viabilização do sistema de ensino não tem preço.

Para que esse rejuvenescimento da profissão se concretize, é necessário garantir duas condições: primeiro, que haja candidatos para ingressar nos cursos de formação docente; segundo, que estes, depois de entrarem na profissão, se mantenham na carreira. Mas, para garantir estas duas condições, existe uma terceira condição que antecede estas duas: tornar a profissão mais atrativa.

Uma das razões mais referidas para a falta de atratividade da carreira é a componente remuneratória, particularmente nos primeiros escalões. Claro que esta questão não é de todo irrelevante, na medida em que o vencimento é determinante na qualidade de vida dos profissionais e das suas famílias. E até pode ser impeditivo do exercício da profissão, pelo que nos é dado observar nas zonas do país nas quais há mais falta de docentes, que são precisamente aquelas nas quais os preços da habitação são incompatíveis com os ordenados praticados.

É de salientar que a questão financeira não tem impacto apenas no número de candidatos que escolhem a carreira docente. Também é igualmente relevante para o perfil de entrada na profissão, na medida em que aumenta as hipóteses de atrair jovens com melhores classificações no ensino secundário que, por esse motivo, escolhem cursos com saídas consideradas mais promissoras. A atração para a profissão dos candidatos melhores colocados contribui, naturalmente, para a dignificação da mesma, que é necessário recuperar.

Mas será que, apesar de relevante, a componente remuneratória é suficiente para resolver o problema da falta de professores? Ou seja, colocando a questão de uma forma muito pragmática: será que basta pagar mais para ter mais professores no sistema? Temo que não. Penso que também é fundamental a recuperação do prestígio dos professores e a dignificação da carreira docente. Nesta dignificação da carreira estão incluídos muitos outros fatores, como a valorização social da profissão, o respeito pelos docentes, a relevância da disciplina, o recentramento da profissão na tarefa de ensinar e a melhoria das condições de trabalho nas escolas.

Talvez esta falta de professores sirva de ponto de partida para pensar na importância do papel dos docentes. E para o valorizar. Os bens escassos parecem sempre os mais preciosos. Mas talvez não fosse necessário termos chegado a este ponto. Esta situação altamente disruptiva não surgiu por geração espontânea, repentinamente, pois os professores não ficaram com 50 anos ou mais de um dia para o outro. Os sinais de emergência foram ignorados, de uma forma displicente e continuada. Agora, os resultados estão à vista. E, para resolver esta situação, qualquer solução já peca por tardia.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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