China está a ampliar o seu arsenal nuclear “mais rapidamente” do que o resto do mundo

Relatório anual do SIPRI sobre armamento e segurança internacional realça um aumento das armas nucleares activas e a deterioração da diplomacia em todo o mundo.

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Exibição de um míssil balístico intercontinental com alegada capacidade para transportar ogivas nucleares numa parada militar chinesa, em 2019 (Pequim) WU HONG / EPA
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O Governo da República Popular da China está a expandir o seu arsenal nuclear “mais rapidamente” do que os outros oito países que possuem este tipo de armamento. Segundo Hans M. Kristensen, investigador do Programa sobre Armas de Destruição Maciça do Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI), Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França, Índia, Paquistão, Coreia do Norte e Israel também estão a ampliar as suas forças nucleares, ou têm planos para o fazer, mas a China está a fazê-lo de forma mais célere.

As declarações de Kristensen surgem no âmbito da publicação do relatório anual do SIPRI sobre o estado do armamento, do desarmamento e da segurança internacional, nesta segunda-feira.

O SIPRI estima que o arsenal nuclear chinês tenha aumentado de 410 ogivas nucleares para 500 entre Janeiro do ano passado e Janeiro deste ano. E acredita que, a este ritmo, mesmo que o arsenal nuclear chinês vá continuar a ser “muito menor” do que o norte-americano ou o russo, o número de mísseis balísticos intercontinentais da China pode vir a ultrapassar o dos EUA e da Rússia até ao final da década.

Moscovo e Washington possuem, entre si, cerca de 90% de todas (12.121 ogivas) as armas nucleares do mundo, com ligeira vantagem para a Rússia, e, embora tenham mantido os respectivos arsenais estáveis, a transparência sobre os mesmos degradou-se desde o início da invasão russa da Ucrânia, em Fevereiro de 2022.

“Ainda que o total de ogivas nucleares possa vir a diminuir, à medida que as armas do período da Guerra Fria são gradualmente desmanteladas, infelizmente continuamos a assistir a aumentos anuais do número de ogivas operacionais”, lamenta Dan Smith, director do SIPRI.

Segundo as estimativas do instituto, cerca de 9585 ogivas nucleares pertencem a arsenais nucleares “para uso potencial”, das quais 2100 estão em mísseis balísticos e em estado de alerta operacional máximo. A maioria das armas pertence à Rússia e aos Estados Unidos, embora se acredite que a China também esteja neste grupo pela primeira vez.

“Encontramo-nos num dos períodos mais perigosos da história da humanidade. Existem inúmeras fontes de instabilidade, rivalidades políticas, desigualdades económicas, perturbações ecológicas e uma corrida armamentista acelerada. O abismo está a bater à porta e chegou a altura de as grandes potências darem um passo atrás e reflectirem. Juntas, de preferência”, alerta Smith.

A deterioração da diplomacia sobre esta matéria agravou-se com a retirada da Rússia do Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares, denunciando um “desequilíbrio” em relação aos EUA, numa altura em que o Kremlin continua a alimentar a sua retórica nuclear no contexto da guerra na Ucrânia e de um potencial confronto com a NATO.

A Rússia também suspendeu a sua participação no New START (Novo Tratado de Redução de Armas Estratégicas) com os EUA, que, por sua vez, decidiu suspender a partilha de informação.

“Não víamos as armas nucleares desempenharem um papel tão destacado nas Relações Internacionais desde a Guerra Fria”, nota Wilfred Wan, director Programa sobre Armas de Destruição Maciça do SIPRI. “É difícil acreditar que só passaram dois anos desde que os líderes dos cinco maiores Estados nucleares reafirmaram, em conjunto, que ‘uma guerra nuclear não pode ser vencida e nunca deve ser travada’.”

Resto do mundo também se arma

Os governos da Índia, do Paquistão e da Coreia do Norte também estão a aumentar as suas capacidades de destacamento de múltiplas ogivas nucleares com mísseis balísticos para alcançar os números da Rússia, da França, do Reino Unido, dos Estados Unidos e da China.

Pyongyang já possui cerca de 50 ogivas nucleares e tem material para chegar à cifra das 90, o que representa um “aumento significativo” nas estimativas do próprio SIPRI para 2023. Mesmo não tendo realizado qualquer explosão nuclear ao longo do ano passado, a Coreia do Norte testou vários lançamentos de mísseis balísticos de curto alcance e desenvolveu mísseis de cruzeiro de ataque terrestre com capacidade nuclear.

“Tal como outros Estados com armas nucleares, a Coreia do Norte está a dar uma nova ênfase no desenvolvimento do seu arsenal de armas nucleares tácticas. Consequentemente, há uma preocupação crescente de que a Coreia do Norte pretenda utilizar estas armas muito em breve”, considera Matt Korda, investigadora do Programa de Armas de Destruição em Massa do SIPRI.

Embora Israel não reconheça publicamente que tem armas nucleares, acredita-se que esteja a modernizar o seu arsenal nuclear e o reactor de produção de plutónio de Dimona. O início da guerra na Faixa de Gaza, em resposta ao ataque do Hamas, prejudicou os esforços para envolver o país na Conferência sobre o Estabelecimento de uma Zona Livre de Armas Nucleares e de Outras Armas de Destruição Maciça no Médio Oriente, e contribuiu para a escalada das tensões entre o Irão e os EUA.

A França continua com os seus programas de desenvolvimento de um submarino com capacidade para transportar mísseis balísticos nucleares de terceira geração e de um novo míssil de cruzeiro lançado do ar. Já o Reino Unido prometeu aumentar o seu arsenal nuclear de 225 para 260 ogivas.

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