O fim de uma era: os gostos no X são agora quase todos anónimos

Quer saber se a sua cara-metade gostou daquela publicação no X? Agora será um eterno mistério.

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O X seguiu o exemplo de outras plataformas ao ocultar ou tirar importância ao “like” Julian Christ/Unsplash
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A rede social X, o antigo Twitter, passou a ocultar quem gosta de uma publicação, de acordo com um alerta na aplicação e com as actualizações do chefe executivo do X, Elon Musk, e da conta oficial de engenharia do X. A medida, segundo a empresa, visa proteger melhor a privacidade dos utilizadores na aplicação.

Quando se deparar com um post que não seja da sua autoria, o X mostrará métricas como a contagem de gostos, mas ocultará a identidade de quem tocou no pequeno coração. As pessoas continuam a poder rever as publicações de que elas próprias gostaram no separador “gostos” dos respectivos perfis, mas deixam de poder fazer o mesmo em perfis alheios. E pode continuar a gostar do conteúdo de outras pessoas (e os autores desse conteúdo vão continuar a saber que gostou).

Este último ajuste faz parte de uma série de mudanças que Musk e sua equipa fizeram na rede desde que ele comprou a plataforma em 2022. Mais notavelmente, introduziu-se um nível pago que dá aos assinantes acesso a mais mensagens directas e o ilustre selo azul. Na semana passada, o X alterou as suas políticas para permitir oficialmente conteúdos para adultos, depois de anos a adoptar uma abordagem laissez-faire em relação à pornografia.

A menção do X à privacidade pode parecer confusa — até nos lembrarmos de escândalos passados em que pessoas poderosas gostaram de algo que provavelmente não deveriam ter gostado. Por exemplo, uma conta ligada ao senador republicano Ted Cruz gostou de um tweet sexualmente explícito em 2017. Cruz acabou por atribuir a culpa a um funcionário. É uma das muitas gafes de relações públicas que podem ajudar a explicar por que as figuras públicas incluem a frase “gostos e retweets não são endossos” nas suas biografias.

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Mensagem que surge ao abrir o X esta sexta-feira dr

A empresa não respondeu imediatamente a um pedido de comentário sobre a mudança.

Reacções à alteração no X

As reacções no X foram mistas, com alguns utilizadores a dizerem que a plataforma tinha coisas mais importantes para fazer e outros a celebrarem o fim das notícias “gotcha” quando uma figura pública gosta de algo ofensivo. Uma pessoa lamentou a perda de um passatempo favorito — verificar os gostos das contas X, mesmo as de “pessoas aleatórias”. Outro observou que é uma vitória para as pessoas que gostam sorrateiramente de conteúdo sexual na rede.

Michael Chau, 34 anos, de Los Angeles, que partilha desenhos animados no X, disse que “não se importa muito” que as pessoas possam ver o que ele gostou — embora não poder ver os gostos de potenciais contactos profissionais possa ser irritante.

Amelia Elizalde, 30 anos, uma comediante que partilha piadas no X, disse que qualquer pessoa que afirme não se importar com quem gosta das publicações está a mentir, porque “ser um creep” é uma parte fundamental da utilização do site.

Tanto Chau como Elizalde culparam Musk pelas mudanças de que não gostam. Chau comparou a trajectória do X a “remover lentamente peças de um carro enquanto se tenta conduzi-lo”. Elizalde chamou à aplicação um “navio a afundar-se”.

Porque é que as redes sociais estão a afastar-se dos gostos?

O “like” do Twitter (agora X) há muito que ocupa um lugar estranho nos nossos corações. Receber um da sua paixão ou de uma celebridade era uma grande notícia. Terminar uma conversa estranha com um simples “gosto” era ainda melhor. O Twitter livrou-se do seu ícone de polegar para cima “favorito” em 2015 a favor do “gosto”, simbolizado por um coração. É uma forma fácil de saber quando algo se está a tornar viral — parte do jogo de publicar online.

O X seguiu o exemplo de outras plataformas ao ocultar ou tirar importância ao “like”. O Instagram começou a permitir que os usuários optassem por ocultar a contagem de gostos nas suas publicações, em 2021, uma mudança que visa diminuir a pressão social sobre a rede, disse a empresa. No TikTok, os utilizadores podem decidir se outras pessoas podem ver quais os vídeos de que eles gostaram.

O YouTube adoptou uma abordagem diferente, ocultando a contagem de “não gosto” nos vídeos em 2021 para, explicou, proteger os criadores menores de campanhas de assédio.

A procura de gostos pode ter um custo psicológico genuíno, como demonstram os estudos. David Yeager, que estuda o desenvolvimento dos adolescentes na Universidade do Texas, em Austin, co-escreveu um artigo que mostra que, especialmente para os jovens vulneráveis, o facto de não obterem o que consideram ser “suficientes” gostos pode alimentar a baixa auto-estima e criar quadros de depressão.

Online ou offline, os adolescentes não estão apenas a tentar maximizar o número de pessoas a quem estão ligados; estão a tentar impressionar certos tipos de pessoas”, disse Yeager.

O anonimato dos gostos pode aliviar alguma pressão, supõe o especialista. Ou pode fazer com que as pessoas se questionem e fiquem mais ansiosas.


Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

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