Dias depois de tomar posse, o novo ministro da Educação anunciou que os exames nacionais do 9.º ano, que estava previsto serem realizados em formato digital, seriam afinal feitos em papel.
No comunicado em que tornou pública essa decisão, a equipa de Fernando Alexandre garantia que o anterior Governo “não assegurou às escolas as condições necessárias para a realização” das provas em formato digital. No mesmo dia, o ex-titular da pasta, João Costa, apresentou uma versão contrária.
No início desta semana, também em comunicado, o ministério de Fernando Alexandre tildou de “grave e incompreensível” a “ausência de planeamento por parte do Governo anterior” que diz ser responsável por deixar quase 20 mil crianças de 3 anos sem vaga no pré-escolar no próximo ano lectivo. No mesmo dia, o ex-titular da pasta apresentou uma versão contrária.
Pelo meio, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação acusou o anterior Governo de ter deixado um défice de 100 milhões de euros na Fundação para a Ciência e Tecnologia, deixando-a sem “capacidade financeira para assegurar os projectos e compromissos assumidos até ao final do ano”. A ex-titular da pasta, Elvira Fortunato, não disse nada. Mas fonte do anterior Governo apresentou uma versão contrária.
Mais do que assinalar a diferença de atitudes entre os dois ex-ministros do PS – dir-se-ia que coerente com o perfil que assumiram nos cerca de dois anos em que ocuparam as respectivas pastas – interessava sublinhar a consistência do modo de actuação de Fernando Alexandre.
Quando abre os principais dossiês, o novo ministro começa por apontar para o passado e responsabilizar o legado que recebeu. Aos exemplos apontados também se pode, em certa medida, juntar a questão da recuperação do tempo de serviço dos professores, embora o enquadramento político seja diferente porque houve um consenso partidário à volta do tema nas recentes eleições nacionais.
Não é uma absoluta novidade em política e ainda menos na Educação. Mas o costume era que o jogo de responsabilização entre novos e velhos governantes fosse feito em torno de temas de política, sobretudo pedagógica. Fernando Alexandre dobrou a aposta.
O que é novo é a veemência com que Alexandre tem responsabilizado os antecessores, questionando a sua competência e capacidade de trabalho. Dois meses e meio depois de tomar posse, já será possível antecipar que este será um dos traços do seu mandato.
É uma jogada arriscada, porque eleva o patamar de exigência sobre a sua própria capacidade de realização. E mesmo que tenha começado o mandato com uma aparente vitória junto dos professores, no actual quadro político precário é mais dificíl encontrar as condições para garantir o sucesso da aposta que fez.
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