Mudanças nas rotas dos aviões geram ruído e revolta em Alverca e na Póvoa
Moradores e autarcas que habitam a norte do aeroporto queixam-se de maior ruído.
As alterações introduzidas pela NAV Portugal, no passado dia 16, nas rotas de aproximação, aterragem e descolagem do Aeroporto Humberto Delgado estão a gerar controvérsia e muito descontentamento nas cidades de Alverca e da Póvoa de Santa Iria, no concelho de Vila Franca de Xira. A NAV garante que as modificações foram “mínimas”, mas moradores e autarcas destas duas cidades vizinhas falam de aumentos “inaceitáveis” nos níveis de ruído, originados sobretudo pelos aviões que descolam do Aeroporto Internacional de Lisboa em intervalos de 4 minutos. As autarquias locais vão reclamar a revisão das alterações introduzidas, mas a NAV alega que a medida teve por base “razões de ordem ambiental e de promoção de maiores níveis de segurança”.
Moradores de Alverca e da Póvoa de Santa Iria (cidades próximas do Tejo que somam cerca de 70 mil habitantes) têm denunciado o problema junto das autarquias locais, que já contactaram a NAV e solicitaram a intervenção da Câmara de Vila Franca de Xira. Nuno Libório, vereador da CDU, diz que as alterações decididas pela NAV “têm vindo a resultar num forte impacto sonoro em Alverca”. O autarca, residente em Alverca, quis saber em que medida a Câmara tem conhecimento da situação e se já tentou intervir junto da NAV. “Este impacto sonoro, que não existia, tem a ver com a altitude e os trajectos aéreos agora adoptados. A Câmara tem que estar em cima do acontecimento, que faz com que Alverca esteja a ser confrontada com impactos sonoros gravíssimos”, sustentou Nuno Libório na última reunião pública da Câmara de Vila Franca de Xira, numa questão que não chegou a ter resposta do presidente da edilidade, Fernando Paulo Ferreira (PS).
Já Cláudio Lotra (PS), presidente da Junta da União de Freguesias de Alverca e Sobralinho, confirma, em declarações ao PÚBLICO, que tem recebido bastantes queixas de moradores locais e que o mesmo se passa com a presidente da Junta da Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa. O autarca alverquense procurou apurar o que se passava junto da NAV e concluiu que “com as alterações que a NAV operou, a maior parte dos aviões que descolam de Lisboa passam agora por aqui, o que provoca mais ruído. Na descolagem os motores estão em maior esforço do que na aterragem e o ruído é maior”, constata Cláudio Lotra, referindo que o incómodo é grande porque os aviões passam, agora, de quatro em quatro minutos sobre a cidade.
O autarca alverquense soube que a NAV decidiu deslocar as principais rotas de aterragem para a zona costeira próximo de Sesimbra, minimizando o ruído anteriormente sentido em áreas mais populosas. E alterou, também, parte das rotas de descolagem. “Procurámos que a Câmara tente sensibilizar a NAV para que, pelo menos nas horas mais tardias, se possa aligeirar este problema. A NAV dá-nos uma série de justificações, mas a questão agravou-se bastante”, prossegue Cláudio Lotra, que tem conhecimento de outras situações vividas na vizinha União de Freguesias da Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa, onde alguns aviões passam a altitudes muito baixas em direcção ao Aeroporto Humberto Delgado.
Explicações da NAV
Já a NAV Portugal explica, em resposta ao PÚBLICO, que as recentes alterações promovidas no espaço aéreo da Área Terminal de Lisboa avançaram essencialmente com o objectivo de levar “ao afastamento das rotas de chegada e das 'zonas de espera' das aeronaves das regiões mais populosas da região de Lisboa, colocando-as ainda a uma altitude mais elevada, reduzindo o impacto visual e sonoro do sistema aeroportuário como um todo”.
Nesse sentido, fonte oficial da empresa pública responsável pela gestão de tráfego no Aeroporto Humberto Delgado acrescenta que, “das mudanças promovidas não resultaram quaisquer alterações ao nível das aproximações finais (a partir 4000 pés), nem tal era possível, já que as rotas a partir deste ponto dependem só e apenas da localização do aeroporto”.
Já em relação às descolagens no sentido Sul-Norte, segundo a NAV, “à excepção da criação de uma nova rota de saída para Oeste, em direcção ao Oceano, as rotas sofreram alterações mínimas, alterações essas que em caso algum teriam um impacto da escala referida”, afiança a empresa, questionada sobre as queixas dos moradores de Alverca. “Além disso, as rotas de descolagem apresentam hoje esforços de subida idênticos ou inferiores às até então existentes e as rotinas operacionais associadas à descolagem em nada se alteraram”, assegura a empresa, precisando que “em relação à direcção das descolagens, estas dependem não de qualquer opção tomada pela NAV Portugal, mas sim de razões meteorológicas, já que tanto a aterragem como a descolagem devem ser feitas contra o vento e nenhuma alteração associada ao Espaço Aéreo pode influenciar este factor”, conclui a mesma fonte oficial da NAV.