Uns estão sozinhos; outros, “com Deus”: viver isolado na velhice é ter “um nó no coração”
Nas grandes cidades, a solidão dos idosos também se faz sentir. Há quem tenha companhia de voluntários, há quem já não consiga conviver. Mas o que é “triste” é “fechar a porta e estar sozinho”.
Uma fachada cinzenta na Rua de Latino Coelho, no Porto, esconde um corredor exterior que só se alcança ao subir ao 1.º andar. Há roupa estendida, e uma toalha laranja que tapa a porta de entrada de “Mariazinha” do Sameiro, que está no quarto, álbum de fotografias aberto, a contar histórias. À porta, Diogo e Daniela, jovens sorridentes, usam T-shirts que os assinalam como voluntários. Acenam: “É aqui.” É mais difícil encontrar a Casa da Mãe Clara, onde à porta não há número nem voluntários a acenar. Estão todos demasiado ocupados, a cozinhar, a servir refeições ou a pôr à boca umas garfadas de massa com carne: “Entre, entre.” Mas é preciso ir até Lisboa para encontrar a Rua João do Outeiro. É lá que espreita, à janela do primeiro andar, Vicência Bugalho. Não indica a porta, não diz para entrar: quem quiser pode subir, sempre foi assim. Lá em cima, abre a janela de par em par: a vida pode ser “triste”, mas a vista “é uma maravilha”.
O contributo do PÚBLICO para a vida democrática e cívica do país reside na força da relação que estabelece com os seus leitores.Para continuar a ler este artigo assine o PÚBLICO.Ligue - nos através do 808 200 095 ou envie-nos um email para assinaturas.online@publico.pt.