Há relação entre a obesidade e a asma?
O excesso de peso e a obesidade são um fator de risco para o aparecimento de asma na infância, particularmente em raparigas e também em mulheres jovens.
A obesidade é uma doença crónica e recidivante que resulta da interação complexa entre o ambiente e a suscetibilidade genética individual. A prevalência da obesidade no mundo triplicou nas últimas quatro décadas, tornando-se num dos mais importantes problemas de saúde pública mundial.
De acordo com a World Obesity Federation, três mil milhões de pessoas vivem com excesso de peso e obesidade no mundo. Em Portugal, 17,7% dos adultos são obesos e 38,2% têm excesso de peso, o que além de interferir na sua qualidade de vida, se associa a um aumento na prevalência de outras doenças para as quais a obesidade constitui um fator de risco. Apesar de ser oficialmente reconhecida como uma doença crónica em Portugal desde 2004, o seu reconhecimento, diagnóstico e tratamento dirigido ainda está muito aquém dos objetivos.
A obesidade está associada a mais de 200 complicações, como a diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, cancro e doenças respiratórias, representando um enorme fardo económico sobre o nosso sistema de saúde. De acordo com o estudo Custo e Carga da Obesidade em Portugal, a fração atribuível à obesidade na prevalência da asma em Portugal é de 24,2%.
A asma afeta cerca de 300 milhões de pessoas em todo o mundo, de acordo com a Global Iniciative for Asthma, sendo uma patologia que se estende a todas as faixas etárias. Tem apresentado aumento da prevalência em muitos países desenvolvidos e em desenvolvimento, com aumento significativo dos custos associados ao tratamento. Este crescimento acarreta também um peso importante a nível social, devido a perda de produtividade por absentismo laboral e disrupção da dinâmica familiar.
Em Portugal mais de 570 mil adultos vivem com este diagnóstico, com uma prevalência estimada de 7,1%, segundo os dados mais recentemente apresentados no estudo Epi-Asthma. Outro importante dado deste estudo é a percentagem elevada de doentes com asma mal controlada (68%), uma vez que a doença é muitas vezes desvalorizada, levando a um mau cumprimento terapêutico. É, no entanto, uma patologia que não se deve negligenciar, uma vez que é responsável por muitas mortes, mesmo em pessoas mais jovens.
Esta é uma doença muito heterogénea, sendo causada por inflamação crónica das vias aéreas, o que se traduz no dia-a-dia por queixas de tosse, cansaço, falta de ar, aperto torácico e pieira, que variam ao longo do dia e muitas vezes sazonalmente. As queixas podem ser piores durante a noite ou ao acordar, sendo frequentemente espoletadas por exercício físico, exposição ao ar frio, inalação de alérgenos ou até o riso. O diagnóstico, além da história clínica, pode necessitar da realização de estudos da função respiratória para melhor avaliar a obstrução ao fluxo respiratório.
A multimorbilidade é um problema comum em pacientes com doenças crónicas como a asma. O excesso de peso e a obesidade são um fator de risco para o aparecimento de asma na infância, particularmente em raparigas e também em mulheres jovens. Quanto maior o índice de massa corporal (IMC), maior o risco de desenvolver asma. Esta é também mais difícil de controlar nos doentes obesos, o que pode resultar de alterações inflamatórias distintas das vias aéreas, e da associação a outras patologias, como já referido. A própria redução dos volumes pulmonares por aumento da gordura abdominal acaba também por contribuir para a falta de ar e cansaço.
O tratamento nestes doentes passa pelo uso de corticóides e broncodilatadores inalados, apesar de a resposta muitas vezes não ser satisfatória. Assim, as agudizações da doença são mais frequentes e a necessidade de terapêutica de alívio e corticoterapia sistémica está também aumentada. A perda de peso deve ser incluída no plano terapêutico, uma vez que o exercício físico por si só não parece ser suficiente para melhorar o controlo da doença.
A perda de peso facilita o controlo da asma, ajuda a melhorar a função pulmonar e reduz a necessidade de medicação de alívio. Mesmo pequenas perdas ponderais correspondentes a 5% do peso corporal da pessoa obesa podem melhorar significativamente as comorbilidades associadas à obesidade, como a redução de episódios de exacerbação de asma.
Com a prevalência crescente da obesidade no nosso país e a sua associação à asma e a outras doenças respiratórias, tornou-se essencial a aposta na implementação de estratégias de prevenção e tratamento cada vez mais precoce.
As autoras escrevem segundo o Acordo Ortográfico de 1990