Tornar Portugal industrial outra vez

Decisões de novos aeroportos e problemas do turismo à parte, é raro vermos notícias sobre grandes acordos de investimento produtivo na nossa economia.

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Megafone P3: Tornar Portugal industrial outra vez Miguel Manso
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Com o anúncio do novo aeroporto em Alcochete, somos recordados do peso que o turismo tem na nossa economia e da necessidade de criar infra-estruturas para o acomodar. Decisões de novos aeroportos e problemas do turismo à parte, é raro vermos notícias sobre grandes acordos de investimento produtivo na nossa economia. Passar de uma economia industrializada para uma economia de serviços é a sequência normal das coisas, mas está longe de ser um passo extraordinário.

Se até 1974 a nossa economia era marcada por políticas que favoreciam a agricultura e a indústria, a partir desse momento houve uma tendência natural de viragem para o sector dos serviços. Além disso, a integração na Comunidade Económica Europeia (CEE) em 1986 trouxe a necessidade de ajustes estruturais e abertura ao mundo.

A introdução do Euro em 1999 foi a última machadada no nosso sector industrial, com a apreciação do escudo que tornou as nossas exportações menos competitivas e dificultou a manutenção das indústrias intensivas em mão de obra. Como resultado, muitas empresas optaram por deslocalizar a produção para países com custos de mão-de-obra mais baixos, levando ao fecho de fábricas e à perda de empregos. Além disso, a falta de investimento em tecnologia e inovação contribuiu para a perda de competitividade do sector industrial. Muitas empresas não conseguiram acompanhar os avanços tecnológicos, o que as deixou para trás num mercado global cada vez mais exigente e orientado para a inovação.

A dependência crescente do turismo trouxe consigo uma série de desafios, especialmente sendo um bem não transaccionável. Ao contrário dos bens transaccionáveis, como produtos manufacturados ou commodities, os serviços turísticos são consumidos no local onde são produzidos e não podem ser exportados ou armazenados. Embora traga receitas significativas e empregos locais, frequentemente sazonais, o turismo não contribui directamente para o desenvolvimento de cadeias de valor globais ou para o aumento das exportações de bens tangíveis. Isso significa que a economia portuguesa é vulnerável a flutuações nos fluxos turísticos, como aconteceu durante a pandemia, sem a capacidade de compensar perdas com exportações de outros sectores.

A concentração de investimentos no turismo pode levar a uma concentração de recursos em áreas específicas, como o litoral e os centros urbanos, em detrimento de outras regiões do país. São então criadas disparidades regionais e uma distribuição desigual dos benefícios gerados. Além disso, a pressão sobre infra-estruturas e recursos naturais pode comprometer a sustentabilidade ambiental.

É, portanto, crucial que Portugal reestruture o seu lado da oferta, não só promovendo a reindustrialização, mas também valorizando e investindo em bens transaccionáveis, na agricultura e indústria. Exemplos de sucesso noutros países (Alemanha, China, Coreia do Sul e Estados Unidos…) mostram que políticas de incentivos fiscais, programas de formação profissional e parcerias público-privadas podem ser eficazes na promoção da reindustrialização. Sectores como a tecnologia verde, as energias renováveis e a indústria de alta tecnologia são áreas promissoras que Portugal pode explorar, considerando as nossas vantagens comparativas.

A promoção de uma economia mais diversificada e resiliente requer uma abordagem holística que reconheça a importância de todos os sectores da economia, incluindo os bens não transaccionáveis. Isso exige não apenas políticas que incentivem a inovação e o investimento em diferentes sectores, mas também uma mudança cultural que valorize a diversidade e promova práticas sustentáveis de desenvolvimento em todo o país.

Para enfrentar os desafios da reindustrialização, é essencial investir em infra-estruturas modernas e investimento no nosso capital humano, bem como fomentar a colaboração entre universidades, centros de investigação e empresas. Só com uma estratégia bem definida e um compromisso conjunto de todos os sectores da sociedade poderemos garantir um crescimento económico equilibrado e sustentável para Portugal.

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