Todos os anos, a 24 de Maio, a comunidade cigana regressa a Saintes-Maries-de-la-Mer, uma vila com cerca de 2500 habitantes no Sul de França, para prestar homenagem à sua padroeira, uma virgem negra que é carregada em ombros desde a igreja até à praia. A face da pacata Saintes-Maries, na Camarga francesa, transforma-se radicalmente, podendo facilmente acolher 25 a 30 mil pessoas que chegam de todo o país para dar mostras da sua fé.
"Como quase sempre acontece com tantas outras tradições, também esta virgem negra está envolta numa teia de lendas. Uma delas conduz-nos até ao ano 44 depois do nascimento de Cristo, quando uma barca proveniente da Palestina terá encontrado abrigo na costa francesa com um conjunto de pessoas muito especiais a bordo. Entre elas, Maria Salomé, identificada como mãe de São Tiago e São João, discípulos de Jesus, Maria Jacobé, prima da Virgem Maria, Maria Madalena, Lázaro e a sua irmã Marta, Maximino e Sidónio, o cego de Jericó", contextualiza o Sousa Ribeiro, que por lá passou nestes dias festivos. E acrescenta: "Com o tempo, Sara, a negra, eventualmente uma egípcia que servia em casa de uma das Marias e que foi autorizada a juntar-se ao grupo, acaba por quase eclipsar Maria Salomé e Maria Jacobé; hoje é venerada por ciganos de toda a Europa."
Num relato vivo e colorido, o Sousa Ribeiro dá-nos conta desses dias de festa, convívio e comunhão, abrindo-nos ainda a porta para conhecermos o sonho cor-de-rosa de Aigues-Mortes, uma cidade medieval soberba a curta distância de Saintes-Maries-de-la-Mer.
Bom fim-de-semana e boas fugas!