Harmonização: Vinhos Verdes que fazem brilhar piqueniques
Dias quentes pedem almoços informais ao ar livre e Vinhos Verdes que lhes façam companhia. Simplificar é palavra de ordem, e o sommelier Manuel Moreira ajuda a resolver o embaraço da escolha.
Nos dias ensolarados e sabe bem fugir da rotina e fazer aquela escapadinha ao ar livre com família ou amigos. Não há convívio pleno sem petisco – e o piquenique emerge intuitivamente como projecto adequado. Afinal, piquenique evoca o acto de compartilhar e a convivialidade. A toalha estendida não fica bem sem vinho. Aqui há lugar aos polivalentes, os menos cerimoniosos, aqueles condizentes com o momento.
Sopas frias
Sopa fria, nutritiva e saborosa, tragada da tigela ou sorvida à colherada, é simultaneamente retemperadora e refrescante em dias afagados pelo Sol. Numa tigela de sopa, muita coisa pode acontecer. Do singelo gaspacho ao refinado vichyssoise, ao uso criativo de sobras, pouco importa se é volumosa ou mais líquida, picante, repleta de carne, marisco ou legumes, não há limites à imaginação.
Na escolha do vinho, o princípio será o da simplicidade. O melhor é mesmo não complicar nas combinações. Aliás, o momento quer-se informal.
Por isso, de nada serve dar cabo da cabeça a pensar que vinho escolher. O único “incómodo” estará em misturar líquidos com líquidos. De resto, é considerar a textura e levar em conta a temperatura, já sabemos que é fria.
A dose certa de consistência e textura do vinho apoiada em sabores frescos, frutados e acidez bem-disposta são via aberta a que corra bem. Uma pequena porção de açúcar residual não fará dano, bem pelo contrário. Um dos indiscutíveis será o espumante e a sua diligente efervescência. Mais uma vez, nada de muito complicado. Jovem e frutado basta. Servido fresquinho, ou mesmo “geladinho”, é condição favorável entre a sopa e o vinho. Ficam bem um para o outro.
Queijos e enchidos
Uma opção petisqueira intuitiva, bem acolhida e consensual para qualquer piquenique. Num dos novos conceitos de regime alimentar, o grazing, os queijos e enchidos têm protagonismo regular. E, valha a verdade, uma “tábua mista” bem arranjada, repleta de combinações de cores e formas, é bonita e tentadora. Além do mais, é muito prática de levar e não requer preparação complexa.
O que precisa mesmo é de fazer uma escolha que abarque variedade em ambas categorias. Tudo arrumado e seccionado antes de sair e disposto no local. Escolha queijos de várias origens, diversidade de tipos de leite, consistências e tempos de cura. Chouriços, paio, presunto e salpicão são bons candidatos nas carnes. Também patês e terrinas ajudam à festa. E não esqueçamos acompanhamentos como azeitonas, fatias e tostas de pão, frutas frescas e secas.
E já só falta o vinho. A boa notícia é que, dada a variedade de sabores, não precisamos de nenhum específico. A preferência deve recair nos que são mais polivalentes. Esta sim, é a característica-chave. Vinhos de corpo envolvente, fresco, de fruta acariciadora e taninos sedosos no caso dos tintos. As cartas estão lançadas. O exercício de felicidade pode começar.
Quiches e empadas
Empadas são irresistíveis quando o exterior está douradinho e crocante. Para isso a massa tem de ser do melhor. O interior com galinha e legumes são dos mais comuns.
O recheio saboroso, por vezes condimentado, e o estaladiço seco do exterior pedem vinho valoroso de corpo, só o suficiente, nada de opulência. Acidez é vital para confrontar a natureza do petisco. Notas de biscoito e frutos secos no vinho farão ponte com a manteiga e o caramelizado da massa.
Já a quiche é mais ao género de tarte ou torta aberta. Mais consistente e cremosa no paladar do que a empada, devido ao ovo e leite no “aparelho” da massa. Se a tradicional leva toucinho fumado, hoje a lista de ingredientes é vasta e à vontade do freguês.
O contraste entre a suavidade humedecida do recheio e o toque mais quebradiço e crocante do exterior dá campo aberto à escolha do vinho. Os de maior volúpia de fruta, corpo e de acidez relevante são os ideais. Se a barrica for parte do todo, aproveite-se. Empadas e quiches são tentadoras e práticas de servir, magníficas para aproveitar sobras e adequadas ao piquenique.
Brownie
O brownie de chocolate, originário dos Estados Unidos, no final do século XIX, surge em várias consistências de acordo com sua densidade. Pode ser do tipo fudgy, com uma textura densa e húmida, ou “bolo”, mais leve e esponjoso.
Um dos seus atractivos é a superfície mais assada, seca e crocante, contrastando com o centro derretido, às vezes pegajoso. É comum a inclusão de frutos secos, cobertura, pepitas de cacau ou outros ingredientes.
Tem tanto de irresistível ao paladar como de desafiante para o vinho. Ao pensar neste para harmonizar com brownies, será útil saber o tipo de chocolate usado, para antecipar os amargos, por exemplo, e calibrar com o vinho apropriado. A persistência de sabor deve ser levada em conta.
Características como corpo rico, açúcar, acidez e efervescência são indispensáveis, assim como os taninos. Mas não nos consumamos. Em ambiente de piquenique, esses raciocínios mais elaborados não ligam com a ocasião. Simplifiquemos. Caso não haja vinhos doces, viremo-nos para tintos amplos e suculentos, espumantes rosés ou tintos. Adicionar acompanhamentos, como bagas frescas ou gelado, ajuda à afinidade com os vinhos. E a festa está feita.
Este artigo foi publicado na edição n.º 12 da revista Singular.
Para saber mais sobre a política de conteúdos promovidos do PÚBLICO, clique aqui.