Museu de Chicago adquire novo exemplar do famoso Archaeopteryx
Conhecem-se só 13 exemplares do Archaeopteryx, ave que viveu há 150 milhões de anos. O Museu Field, em Chicago, comprou um dos exemplares deste fóssil que ajuda a contar a história evolutiva das aves.
Um fóssil primorosamente preservado da ave mais antiga conhecida, o Archaeopteryx, um espécime do tamanho de um pombo que revela novos detalhes anatómicos de uma criatura cuja descoberta no século XIX deu apoio às ideias de Charles Darwin sobre a evolução, foi adquirido pelo Museu Field em Chicago e será exposto ao público.
O Museu Field anunciou esta segunda-feira a aquisição do fóssil, que tinha estado nas mãos de uma série de coleccionadores privados desde que foi desenterrado no Sul da Alemanha, antes de 1990. O crânio, a coluna vertebral e os tecidos moles são os mais bem conservados dos 13 espécimes de Archaeopteryx conhecidos, afirmou o museu.
“A maioria dos espécimes anteriores estão incompletos, preparados de forma grosseira e/ou esmagados, o que limita os dados que podem fornecer”, disse Jingmai O’Connor, paleontóloga do museu. “O espécime de Chicago preserva tecidos moles nunca antes vistos em qualquer outro espécime, bem como novas informações sobre o esqueleto que nos ajudam a compreender melhor como esta ave viveu e a sua relação exacta com os dinossauros não-aviários.”
O Archaeopteryx viveu há cerca de 150 milhões de anos, durante o período Jurássico. As aves evoluíram a partir de pequenos dinossauros com penas, e fazem parte da linhagem dos dinossauros – na verdade, são os únicos sobreviventes dessa linhagem a uma extinção em massa há 66 milhões de anos, causada por um asteróide que atingiu a Terra. O Archaeopteryx ostentava características de réptil, como dentes, uma cauda longa e óssea e garras nas mãos, ao lado de características de ave, como asas formadas por penas grandes e assimétricas.
O fóssil está quase completo, faltando apenas a ponta de um dedo, disse Jingmai O’Connor. As impressões fossilizadas das penas são extensas, revelando características nas penas das asas que não ficaram preservadas nos outros exemplares, acrescentou.
O fóssil possui a única coluna vertebral completa do Archaeopteryx – incluindo duas pequenas vértebras na ponta da cauda, mostrando que ele tinha 24 vértebras, uma a mais do que se pensava anteriormente, disse ainda a paleontóloga. Outra característica única que apresenta são as escamas na parte inferior das patas do Archaeopteryx, acrescentou.
Permanece numa laje de calcário devido à fragilidade dos ossos e de outras características. Depois de ter sido entregue em Chicago, em Agosto de 2022, as preparadoras de fósseis do museu, Akiko Shinya e Connie van Beek, passaram mais de 1400 horas a utilizar minúsculas brocas para remover a rocha e expor os ossos e outras características.
O maior exemplar de Archaeopteryx é do tamanho de um corvo. O exemplar do Museu Field está empatado com o mais pequeno, em termos de tamanho.
Alemanha proibe venda de Archaeopteryx desde 2015
“O Archaeopteryx viveu num arquipélago árido, com pouca vegetação e atingido por tempestades sazonais. Parece ter-se adaptado para a vida no solo, como muitas aves actuais, e nós pomos a hipótese de que era capaz apenas de pequenos voos de rompante e talvez de planar a partir das árvores”, disse ainda a paleontóloga.
Em 1859, Charles Darwin publicou a sua teoria da evolução por selecção natural. Partindo da noção de que os organismos podem mudar ao longo do tempo, o naturalista britânico propôs que as novas espécies surgiam a partir de espécies anteriores e que as espécies mais bem adaptadas ao seu ambiente tinham mais probabilidades de sobreviver e de transmitir os genes que estão na base do seu sucesso.
A “objecção mais grave” à sua teoria, observou Darwin, era a falta, na altura, de fósseis de formas de transição. A descoberta, em 1861, na Baviera, do Archaeopteryx, que combinava características de répteis e de aves, veio corroborar a teoria de Darwin.
“O fóssil deste táxon mostrou-nos que as aves são dinossauros, ajudou a provar a selecção natural como um mecanismo para a evolução e continua a ser, após mais de 160 anos, uma das espécies fósseis mais investigadas e importantes de todos os tempos”, realçou Jingmai O’Connor.
O museu – que já abriga o esqueleto de Sue, talvez o maior e mais bem preservado Tyrannosaurus rex – não revelou o preço pago pelo fóssil de Archaeopteryx. A partir desta terça-feira, ficará em exposição durante cerca de um mês, regressando mais tarde numa exposição permanente.
Uma lei alemã de 2015 exige que os fósseis de Archaeopteryx recém-descobertos fiquem na Alemanha. Este espécime foi vendido fora da Alemanha em 1990, o que significa que já estava fora do país antes da aprovação da lei, esclareceu o Museu Field.