“Igualdade para urinar”: Amesterdão vai (finalmente) construir casas de banho para mulheres

No centro de Amesterdão, existem apenas três casas de banho públicas para mulheres e 35 urinóis para homens. Um grupo de mulheres luta pela “igualdade para urinar” e por mais casas de banho na cidade.

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Várias mulheres juntaram-se ao protesto através de uma hashtag no Instagram DR/Alphons Nieuwenhuis
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A falta de casas de banho públicas, principalmente as que são mais do que um urinol, é uma das principais críticas de quem visita ou vive em Amesterdão. Depois de uma campanha bem-sucedida, e de anos de protestos de moradoras, a cidade holandesa anunciou um investimento de quatro milhões de euros na “igualdade para urinar”. Como é que tudo começou?

A questão começou a ser debatida após Geerte Piening, uma estudante holandesa, ter sido multada em 2015, por ter urinado na rua, num sítio onde não havia casas de banho próximas. Na altura, tinha 21 anos e estava a regressar a casa depois de uma saída à noite. Os bares já estavam a fechar e não podia usar as casas de banho dos estabelecimentos. A casa de banho pública mais próxima estava a uma distância de dois quilómetros e Geerte viu-se obrigada a urinar na rua. No momento, foi avistada por um polícia que lhe passou uma multa no valor de 140 euros.

A jovem contou ao The Guardian que se sentiu revoltada nos dias que se seguiram: “Existiam imensos urinóis para homens, mas eu não tinha onde urinar...” Decidiu levar o caso a tribunal depois de descobrir que existiam apenas três casas de banho públicas para mulheres face a 35 urinóis para homens no centro da cidade, para além de não existirem condições para pessoas com mobilidade reduzida.

Piening era a segunda mulher acusada de urinar em público com que o juiz se deparava. "As mulheres simplesmente não o fazem, em comparação com os homens", disse, no julgamento. O tribunal decidiu baixar a multa para 90 euros, mas Geerte não se conformou. Segundo o Dutch News, o juiz terá ainda dito, durante o julgamento, que a jovem poderia ter usado um dos urinóis masculinos: “Não seria agradável, mas era possível”. Ao ouvir esta frase, Geerte Piening juntou-se a outras mulheres para uma campanha de sensibilização: “Power to Peepee”.

Através do uso de uma hashtag, #zeikwijf (que significa “mulher que urina"), publicaram fotografias em que tentavam utilizar os urinóis em poses quase acrobáticas. Apesar do humor, as participantes admitiram que o principal objectivo da acção era demonstrar que "não é possível as mulheres urinarem de forma decente, higiénica e digna" num urinol público masculino. A campanha chegou a Ilana Rooderkerk, na altura conselheira municipal de Amesterdão, que chamou a atenção para uma maior “igualdade para urinar”.

Depois de mais de uma centena de publicações no Instagram e de debaterem o problema em várias tertúlias, o conselho da cidade aprovou uma moção que pedia a construção de um maior número de WC acessíveis, em 2019. Aos poucos, começaram a colocar casas de banho móveis em espaços verdes e zonas públicas, principalmente durante o período de Verão, quando a cidade recebe mais turistas.

Contudo, o grande investimento chega quase seis anos depois da promessa. No início de Abril, o Governo anunciou que a cidade investirá quatro milhões de euros para construir mais casas de banho, embora não tenham indicado um número exacto. No entanto, a acessibilidade é uma das prioridades e espera-se que já estejam disponíveis para utilização a partir de Outubro. Segundo a NH Nieuws, a primeira casa de banho será instalada em Oosterpark, um dos parques públicos da cidade.

“Demorou um bocado, mas o facto de estar a acontecer é bastante bom”, comentou Geerte Piening num programa de rádio, depois de conhecer a medida. A jovem também admite que a sua história rapidamente se tornou numa “questão feminista”, algo que não esperava. “Ainda assim, já era mais do que tempo de levantar este assunto. É embaraçoso que as mulheres não tenham um lugar para satisfazer as suas necessidades fisiológicas”, rematou.

Para além do número reduzido de casas de banho no centro da cidade, a sinalização destes espaços é também criticada. “Embora o município tenha começado a introduzir sinais nas ruas, a grande maioria das casas de banho públicas não estão indicadas”, disse o Tribunal de Contas à NL Times. Todavia, existem soluções digitais que podem auxiliar quem está mais aflito, como a Toilet & Urinal Finder ou o próprio site oficial da cidade de Amesterdão.

Em 2019, a arquitecta francesa Gina Périer criou, com a ajuda do arquitecto Alexander Egebjerg, um urinol pensado para mulheres: a espiral cor-de-rosa-choque permite que três pessoas entrem e urinem ao mesmo tempo, agachadas ou sentadas, cada uma num compartimento sem porta, mas que as resguarda do exterior por uma parede curvilínea. Desde aí, o Lapee já salvou muitas mulheres de filas intermináveis em festivais de Verão.

Texto editado por Renata Monteiro

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