Quem apenas escreve não depende de editores. Depende de editores quem escreve e partilha, para publicação, o que escreve.
Os editores são muito importantes para a sobrevivência de um texto. Para a sua existência, nem tanto, porque não estão lá no primeiro momento — no momento em que o autor escreve o texto. Os editores decidem: aprovam ou reprovam o que lhes é dado a editar, e, caso tenham conselhos para dar, dão-nos de um modo bastante livre, mas não absoluto. A palavra do editor não é lei. No texto do autor, manda o autor. Ele até pode ter jeito para editar texto, mas não pode substituir o editor neste processo (não o deve fazer, pelo menos). O autor escreve. O editor edita. À partida, esta fórmula não falha, porque é simples.
Este texto foi, com certeza, alvo de edição. Existiu um compromisso entre o editor e eu. De certa forma, um texto que era o "meu" passou a ser o "nosso". Agora, o texto vincula-nos aos dois; mais a mim do que ao editor, claro, porque foi escrito por mim e pela minha caneta, e passado a limpo no meu computador. O texto também é do leitor. Na verdade, acredito que, neste momento, o texto seja realmente seu. O leitor decide o que quer fazer com ele. É tão bom ser leitor. É um papel sem pressão.
O que o editor deste texto não sabe, mas pode desconfiar, é que, antes dele, outro ou outros editores leram este texto, oferecendo-me pontos de vista muito próprios. Refiro-me aos (meus) pequenos editores. Aos editores pequenininhos, isto é. São os editores do dia-a-dia: as pessoas em quem confiamos a nossa escrita de um modo não oficioso, mas com o mesmo grau de importância, porque os textos são-nos importantes, e eles, com mais ou menos paciência, reconhecem isso.
Quase sempre, os editores pequenininhos são próximos de nós. Eles são pessoas especiais a quem damos uma parte de nós. Quem escreve é feito de carne, ossos, palavras e sangue. Confiamos neles, porque sabemos que eles pensam verdadeiramente em nós — olham pelo nosso bem, independentemente de gostarem do que escrevemos ou não.
É bem possível que os autores confiem mais nos editores pequenininhos do que nos editores propriamente ditos, que são, claro, mais experientes e sabedores. Só que estes, por mais que dominem a arte de editar texto, não conhecem os autores da forma como os editores pequenininhos conhecem.
De facto, alguns estes editores estão connosco desde o primeiro dia: mudaram-nos as fraldas, ensinaram-nos a andar de bicicleta, e ajudaram-nos com determinados trabalhos de casa. Outros, que vieram mais tarde, bebem cervejas connosco, conversam connosco sobre todos os assuntos, e estão sempre disponíveis para um programa bom que quebre a rotina. Há ainda outros editores pequenininhos com quem queremos passar o resto da nossa vida.
Os editores são realmente importantes. Deixo o meu agradecimento ao meu, que editou este texto de um modo tão atento e próximo. Acho apenas que os editores pequenininhos são tão ou mais importantes, porque são os nossos melhores amigos: as pessoas pelas quais nos esforçamos tanto, porque gostamos delas e só as queremos deixar orgulhosas. Muitas vezes, escrevemos a pensar nos nossos editores pequenininhos. Não é surpresa para ninguém.