Devo adiar a entrada do meu filho no 1.º ciclo?
Devemos dar tempo às crianças para se desenvolverem e não querer que cresçam depressa. Cabe aos pais respeitar as etapas de desenvolvimento e esperar que se desenvolvam sem ser sob pressão.
Aproximando-se o final do ano letivo, muitos pais deparam-se com a dúvida: adiar ou não a entrada dos filhos no 1.º ciclo? Esta dúvida surge, muitas vezes, porque são questionados pelos educadores de infância acerca da permanência do filho no pré-escolar e, outra vezes, porque olham para os filhos e não sabem se estarão preparados para a fase seguinte.
Claro que a mudança de ciclo implica que a criança tenha de sair de um ambiente conhecido para um ambiente desconhecido e, como é fácil de perceber, tal provoca alguma ansiedade e, também, a necessidade de ajustamento à nova realidade. Perante isto os pais sentem, naturalmente, alguma insegurança já que sabem que os filhos estão prestes a sofrer a maior mudança das suas vidas.
Apesar da ansiedade que poderão sentir, a maioria das crianças está preparada para esta mudança e deve aproveitar a transição para aprender coisas novas e desenvolver novas capacidades e as suas potencialidades.
Contudo, há ainda os que não estão “preparados” para este salto e por essa razão os educadores de infância propõem um adiamento de matrícula. Um dos motivos que leva a esta proposta está relacionado com a idade, já que as crianças que fazem anos entre setembro e dezembro são consideradas “condicionais” o que implica que a matrícula no 1.º ciclo do ensino básico para estas esteja sujeita às vagas existentes na escola de residência e ao consentimento dos pais.
Outra e talvez a principal razão que leva os educadores a propor a permanência no pré-escolar prende-se com a “maturidade” cognitiva e emocional, que nada tem a ver com os conhecimentos que as crianças possuem, mas com o nível de maturação em que estas se encontram.
Outro dos aspetos que os educadores atendem para sugerir a continuidade no pré-escolar está relacionado com a aquisição dos “pré-requisitos” necessários para o sucesso na aprendizagem da leitura, da escrita e da matemática. Quando os educadores de infância verificam que os alunos ainda não possuem as competências básicas para esta aprendizagem alertam os pais para a necessidade de se trabalharem alguns conteúdos específicos e se desenvolverem determinadas competências.
Claro que os educadores de infância ponderam muito bem antes de apresentar esta proposta e, como conhecem bem as crianças, têm consciência de que se ficarem mais um ano terão a oportunidade de se desenvolver de forma integral respeitando as etapas de desenvolvimento.
Ainda hoje existe na nossa sociedade o estigma de que as crianças que permanecem no pré-escolar são “menos inteligentes” ou “menos competentes”. Posso, com certeza, afirmar que a maioria das solicitações dos educadores para que um aluno fique mais um ano no pré-escolar nada tem a ver com a inteligência, mas sim com a “maturidade” cognitiva e emocional.
Infelizmente, perante esta dúvida, os pais vêm-se confrontados com a pressão social exercida pelos familiares e amigos que acham que ficar no pré-escolar é sinónimo de ficar “retido”. Este facto contribui muitas vezes para uma decisão forçada, o que não é o mais acertado para os filhos.
Aproveito para reforçar a ideia de que muito têm a ganhar as crianças que ficam mais um ano, uma vez que com isso ganham a oportunidade de brincar e desenvolver todas as suas competências e habilidades de forma natural, sem que lhes seja imposto um crescimento “apressado” e um acelerar de desenvolvimento.
Devemos dar tempo às crianças para se desenvolverem de forma natural e não querer que cresçam depressa. Cabe aos pais respeitar as etapas de desenvolvimento e esperar que se desenvolvam sem ser sob pressão. Hoje exigimos demasiado aos nossos filhos e exigimos que passem por todas as fases de forma acelerada, sem respeito pela individualidade e pelo tempo necessário.
É importante ter em conta que os educadores passam muitas horas com as crianças e conhecem bem as suas capacidades e as suas fragilidades, por isso a sua opinião deve ser tida em consideração durante a tomada de decisão de adiar ou não a entrada de um filho no 1.º ciclo do ensino básico.
A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990