Mostrem-nos que não se esqueceram de Abril

O meu avô pediu antes de falecer para que não sepultassem o que ele ajudou a construir. Quem irá assegurar o futuro? Quem não conhece o passado? Não me parece.

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Abril é de todos e para todos Daniel Rocha
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Desde sempre que Abril é um mês especial para mim. Apesar de ter lembranças diárias do que os valores significam, este mês tem outro sabor. O sabor da lembrança de que todos temos direito à liberdade, à dignidade e ao respeito. São valores que me incutiram desde cedo. Valores que tento seguir todos os dias. Valores que acho que até deveriam ser associados ao senso comum, à naturalidade de ser, não apenas a um mês.

Dizer que os valores de Abril estão a ser esquecidos, para mim, é dizer pouco. A facilidade com que o ser português tem tomado a liberdade como garantida é algo que me assusta. Vivemos numa época cuja acessibilidade à informação é mais que vasta, então porque é que existem tantos jovens que não sabem sequer o porquê de um feriado no fim de Abril? Porque é que não há um incentivo nas escolas, um aperto na educação? Porque é que a história de Portugal está a cair no esquecimento, após uns meros 50 anos?

São perguntas que me faço todos os dias. Perguntas essas que causam grande indignação tanto a mim como à minha avó, e a tantos outros que vivem Abril, não por ideologia, mas pela simples e digna liberdade a que todos temos direito. O meu avô pediu antes de falecer para que não sepultassem o que ele ajudou a construir. Penso que nem seja esse o caso. Não estão a enterrar nada, estão a fazer com que o 25 de Abril seja um conto de fadas, coisa que não é. Foi um dia de grande felicidade, mas que lembra a muitos o sofrimento do antes e do depois. E é isso também o que não podemos esquecer, o antes, o durante e o depois. De que me vale um dia de celebração, onde estamos todos de cravos no ar, quando não há um esforço para ensinar às gerações que vieram a seguir o porquê da revolução. De que me servem canções de intervenção na ponta da língua, se não me sabem dizer o porquê delas serem importantes, e o porquê de fazerem tantos chorar.

As lágrimas dos mais velhos são histórias presas que não conseguem ser contadas em palavras. São gritos de amargura e descontentamento. Cada estrofe de Zeca Afonso carrega uma emoção imensa, dos que não tiveram liberdade para escolher, falar e sobretudo ser. E é por eles que devemos sair à rua. São os nomes deles que devem ser relembrados. Os nomes dos exilados, os nomes dos torturados, os nomes dos calados, os nomes dos soldados e os nomes dos retornados. E são esses os nomes que devem ser passados de boca em boca, com história atras de história, à minha geração e às próximas que virão. Quem irá assegurar o futuro? Quem não conhece o passado? Não me parece.

A todos os professores de história, a todos os pais, a todos os avós: informem-nos. Mostrem-nos que não se esqueceram de Abril. Não afiliem a revolução a partidos, mas sim a todo um povo. Não façam com que Abril divida uma população. Abril é de todos e para todos. E, por favor, para nós jovens, não se deixem levar pelo caminho mais fácil. Celebrem Abril com compaixão, tolerância, amor e nunca se esqueçam que lutamos todos pela liberdade e pela união de um povo.

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