É como se um óvni tivesse pousado à beira de uma crista rochosa para admirar a paisagem que aqui se abre em serranias sobre o vale verdejante, serpenteado por estradas e caminhos rurais e polvilhado pela mais colorida Primavera. É o miradouro do Zebro, obra do arquitecto Álvaro Siza Vieira - inaugurado em Oleiros no dia 25 de Abril, já aberto a visitas.
“Tentou-se aproveitar ali um espaço que nós sabíamos que era agradável e [que] tinha uma vista fantástica”, conta à Fugas o presidente da Câmara Municipal de Oleiros, Miguel Marques. “A ideia foi criar melhores condições para quem quisesse visitar aquela zona e desfrutar também da vista que conseguimos alcançar – não só do concelho de Oleiros, mas também de outros concelhos limítrofes.”
“Com o todo o prestígio que tem Siza Vieira temos a certeza absoluta que vai ter um impacto muito positivo no nosso concelho”, defende o autarca. Desejo partilhado pelo presidente da junta de freguesia de Estreito-Vilar Barroco, onde está localizado o miradouro, que, durante uma visita de imprensa ao local no domingo, integrada num roteiro pela região de Pinhal Interior Sul, referiu a necessidade de atrair mais turismo ao território.
A obra é um projecto do anterior presidente da autarquia, Fernando Jorge, continuado pelo actual executivo. "O investimento total da obra é de cerca de 590 mil euros, mas teve apoio do último quadro comunitário de cerca de 414 mil euros", indicou Miguel Marques.
Instalado em plena serra do Muradal, junto à Estrada Nacional 238, o miradouro assinado pelo primeiro arquitecto português a receber um Prémio Pritzker surge “suspenso” na paisagem, avançando para lá do miradouro natural que a montanha já ali formava.
“Está uma obra espectacular”, reage Isabel Rodrigues, em visita à estrutura. De Vila Nova da Barquinha, tem acompanhado a construção do miradouro durante as visitas a Oleiros, de onde é natural o marido, e como “já vai ser inaugurado”, aproveitou para vir ver “como é que isto estava” e subir pela primeira vez à plataforma. “Acho que o enquadramento é perfeito, com esta paisagem maravilhosa. É de recomendar a qualquer pessoa que aprecie a natureza.”
Para já, ainda não existe parque de estacionamento, por isso é necessário deixar o carro na berma da estrada (adivinha-se o próximo grande desafio, depois da obra em si, dadas as particularidades do terreno e da estrutura, cuja construção desenvolveu-se em cima de uma escarpa de xisto a 40 metros de altura, onde esteve instalado o estaleiro).
De seguida, percorre-se um pequeno carreiro sobre a rocha quartzítica da serra do Muradal – assim denominada por formar “um verdadeiro muro” na paisagem, aponta Anabela Silva, técnica de turismo da autarquia – até subirmos à rampa de acesso e chegarmos a uma plataforma circular, totalmente construída em “betão armado aparente”, de acordo com a memória descritiva do projecto assinada pelo próprio Siza Vieira, em 2020.
A guarda forma um ondulado sobre a placa circular, resguardando o abismo por largos centímetros, mas impedindo que se aviste o fundo do vale – para isso, foram abertos dois grandes óculos de vidro no chão, que permitem espreitar os rochedos que continuam até ao sopé por baixo dos nossos pés (cerca de 200 metros até ao ponto mais baixo). Já os painéis interpretativos permitem identificar os sistemas montanhosos à nossa volta, ou ficar a conhecer a origem do nome.
“Outrora, em tempos medievais existiu aqui um cavalo, semelhante a um asno, com o pêlo riscado, e que veio dar também a toponímia a alguns lugares aqui próximos como Casas da Zebreira, a Zebreira, e o próprio miradouro”, refere Anabela, apontando ainda a “crista do Zebro”, no lado oposto da estrada, o ponto mais alto da serra do Muradal. Toda esta fraga quartzítica está classificada como geossítio e integra não só o Trilho Internacional dos Apalaches, como o Geopark Naturtejo.
Correcção: a notícia indicava que a obra orçava em cerca de um milhão de euros, quando esse valor é, na verdade, de cerca de 590 mil euros. Foi efectuada a correcção.