Vem ciclónica a luz que te vai mordendo o rosto
Poesia Pública é uma iniciativa do Museu e Bibliotecas do Porto comissariada por Jorge Sobrado e José A. Bragança de Miranda. Ao longo de 50 dias publicaremos 50 poemas de 50 autores sobre revolução.
Vem ciclónica a luz que te vai mordendo o rosto
e a neblina que prevês mudar o rumo
Um certo dom dos olhos inclinados à esperança,
onde a deixaste que não te sossega o espírito
perguntas pela raiz de um outro Abril
onde eras fio e impulso das alturas,
a destreza de uma asa ensolarada
Estás cansada, cruzas pela casa a tua diagonal,
os teus pronomes,
e atiras ao escuro o registo da hora exacta
sabendo que é sozinha que vais lavrar o poema
com os seus ossinhos finos de armas em flor
Agita-te, descalça-te de sossego, pois que já o sabias:
nenhum dia será teu sem liberdade
Cláudia R. Sampaio é poeta e artista plástica nascida em Lisboa (1981). Escreveu para cinema, televisão e teatro. Tem sete livros de poesia até ao momento e tem também obra publicada no Brasil, México e Espanha. É uma das artistas do projecto artístico MANICÓMIO. Vive com as suas gatas: Polly Jean e Aurora.