O teu currículo é (provavelmente) demasiado longo

Os currículos de duas páginas são agora a norma. “Gestão do tempo” e “pensamento crítico” são algumas das frases mais populares, mas alguns recrutadores não estão impressionados.

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Quem anda à procura de um emprego tende a encher o currículo de palavras-chave para passar pelos sistemas automatizados que, muitas vezes, são o primeiro filtro dos candidatos – mas isso está a afastar os humanos.

Os currículos de duas páginas são agora a norma em comparação com os de há cinco anos, de acordo com o criador de currículos LiveCareer, que analisou a sua base de dados interna de 50.000 currículos e descobriu que são as longas secções de competências que estão por detrás da mudança. "Gestão do tempo" e "pensamento crítico" são algumas das frases mais populares.

Alguns recrutadores não estão impressionados.

"Não tenho tempo para analisar o que é real e o que não é", afirma Katie Birkelo, vice-presidente da agência de recrutamento Randstad, acrescentando que as longas secções de competências são mais confusas do que impressionantes. "Ou talvez seja um não imediato."

A adição de palavras-chave aos materiais de candidatura existe desde que os recrutadores e os potenciais empregadores começaram a utilizar processos de selecção automatizados, que se tornaram cada vez mais populares durante a pandemia. Mas as secções de competências estão a ficar muito mais longas com a colisão entre a contratação baseada em competências — isto é, com enfoque no que os potenciais candidatos podem realmente fazer em vez da sua experiência anterior e o burburinho em torno da utilização da inteligência artificial (IA) para a contratação.

O LiveCareer, por sua vez, vê os currículos maiores como um desenvolvimento positivo. O grupo incentiva os candidatos a fazer cursos de certificação para alargar as secções de competências técnicas, como Python e JavaScript, e adicionar competências técnicas, como liderança e escuta activa, para "proporcionar uma visão mais holística" do que oferecem aos empregadores.

As gerações mais jovens também estão a quebrar a regra, outrora sacrossanta, de um currículo sucinto de uma página, porque pensam que certas competências passarão nos testes de IA, de acordo com Jannette Swanson, que trabalha no departamento de aconselhamento de carreira do Vassar College. Cerca de uma em cada quatro organizações usa a IA para decisões de recursos humanos, de acordo com um estudo de Janeiro de 2024 da SHRM, com a aquisição de talentos a aparecer como principal uso.

"Estão a tentar perceber como se joga este jogo", disse Swanson.

Donovan Harris, 27 anos, trabalha em comunicação em Washington, tem "mensagens" e "comunicação” no seu perfil no LinkedIn e diz que é o facto de o ter cheio de competências que o levou a conseguir empregos.

"Só o facto de ter essas palavras-chave já faz com que se consiga entrar no mercado", disse Harris. "Sei que as pessoas encontraram o meu perfil através de palavras-chave específicas ou de competências específicas que aparecem no meu LinkedIn. Já tive recrutadores que me contactaram por causa disso."

Com as grandes empresas a procederem a despedimentos em massa e o mercado de trabalho a começar a arrefecer, alguns candidatos sem muita sorte estão a enriquecer os seus currículos com mais competências.

"Não consigo perceber porque é que não estou a receber chamadas, por isso vou continuar a escrever mais coisas", disse Birkelo sobre o raciocínio.

É claro que é vital incluir competências como Java e Excel, especialmente se estiver na indústria tecnológica, de acordo com Mark Saltrelli, vice-presidente de recrutamento de engenheiros do grupo de pessoal Kelly Engineering.

Mas fazer um currículo cheio de coisas pode levar a "embelezar" a verdade, afirma Saltrelli. Os candidatos não devem excluir a possibilidade de os recrutadores e empregadores porem à prova as suas competências. Por exemplo, Saltrelli exige exames de proficiência em programação antes da integração para garantir que os candidatos foram verdadeiros.

"Não se deve colocar algo porque se ouviu falar ou porque é muito procurado", defende Saltrelli. "Se não houver correlação entre o conjunto de competências e a experiência profissional, isso é um sinal de alerta."

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