Há dois anos, fiz um projecto de grupo onde fomos para as ruas de Lisboa perguntar a palavra que as pessoas associam ao sector mineiro. Contrariamente à visão negativa esperada, o mais frequente eram respostas ora vagas, ora com admissão de desconhecimento. E a desinformação por parte da população de um sector que é fundamental no suporte da vida como a conhecemos hoje foi gritante.
Numa sociedade evoluída, em que não somos nós a ter de fazer os tijolos das casas em que vivemos, a forjar os nossos talheres ou a fabricar os componentes dos nossos telemóveis, é fácil sentirmo-nos distanciados da origem dos componentes destes e muitos outros objectos. A nossa transacção não se dá à porta de uma pedreira ou mina perdida no meio de nenhures, dá-se sim no conforto de uma loja alcatifada com musica ambiente. Não fomos comprar cobre, níquel ou lítio, fomos comprar o smartphone, o microondas ou o carro que os contém.
Esta distância do cidadão comum dos locais de onde os recursos vêm abre portas a que seja mais fácil acreditar em estereótipos e simplificações, muitas vezes antigos ou falaciosos. É um tema pouco abordado, por norma mal enquadrado na educação e onde maior parte do conteúdo de consumo público só existe quando desastres acontecem. Face à ausência de informação, criam-se naturalmente duas posturas: os que vivem longe das explorações não têm interesse, desconhecem; os que vivem perto rejeitam.
O sector mineiro está numa fase de digitalização e automação enormes, com imensos procedimentos, cuidados e avanços que garantem uma cada vez melhor experiência de quem trabalha nestes locais e quem vive perto deles. A falta de informação porém leva-nos aos medos do antigamente, porque não houve o esforço necessário para os actualizar. Basta pensar um bocadinho e o que nos ocorre quando pensamos em minas é um senhor com um capacete de lanterna, picareta nas mãos, todo sujo e que com alguma sorte estará a sorrir. Procura-se agora começar a mudar ou expandir essa ideia. Porém tudo leva o seu tempo e entretanto houve muitos que já passaram o ponto de dialogar e ouvir, independentemente do que leiam ou oiçam.
Além disto, os temas que o sector mineiro quer trazer à sociedade devem estar a par com os conhecimentos desta. Agitar os bonitos estandartes de que a indústria extractiva é o que permite a transição energética ou que está a dar grandes passos na sustentabilidade da sua actividade é inútil quando ainda não respondemos às perguntas fundamentais e dotámos o cidadão de conceitos base para que ele consiga identificar o que se passa, e com isto tomar uma posição que não seja baseada no medo ou preconceitos pouco fundamentados.
Só após estabelecer na sociedade estas bases conceptuais e substituí-los por imagens actuais é que podemos ter uma conversa franca e em pé de igualdade sobre os grandes temas, sobre projectos, sobre o ser uma área de futuro. Dotar a população de mais conhecimento sobre a indústria extractiva, é garantir que maus projectos ou acontecimentos não são generalizados, sim percalços que devem ser punidos individualmente como em qualquer outro caso. É garantir que a população reconhece que o sector funciona, procura ter boas práticas e faz falta para o desenvolvimento do país.
O envolvimento e cooperação do mundo empresarial, comunicação social e academia na criação de melhores oportunidades de informação são fundamentais para criar uma sociedade mais a par da inovação e funcionamento desta indústria, sem expor o sector como o mais moralmente e ambientalmente irrepreensível (que não é), nem como uma miríade de explosões e destruição que deixaria o planeta num lugar inabitável e triste. É preciso um discurso simples e amplo, acima de tudo verdadeiro, com capacidade de informar e interessar desde alunos em formação a adultos sem grande tempo, que seja franco sobre o que se evoluiu e o que ainda temos de alcançar.