Passos Coelho apela a entendimentos políticos depois de “sinal claro” nas eleições

Na apresentação de um livro, o antigo primeiro-ministro felicitou André Ventura pela “prestação” no Parlamento e falou sobre temas como a imigração.

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Passos Coelho felicitou André Ventura e desejou um "bom mandato" no Parlamento LUSA/MANUEL DE ALMEIDA
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O pretexto era a apresentação de um livro sobre identidade e família, mas depressa a sessão acabou por se tornar num acontecimento político em torno do discurso do antigo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, e do cumprimento ao líder do Chega, André Ventura. No aperto de mão, o antigo presidente do PSD felicitou o antigo militante social-democrata. No discurso, falou de temas que são caros ao Chega como a imigração, a família, e defendeu o entendimento político como um “sinal forte” para os “desiludidos”. No final, Ventura falou de “convergência” entre os dois e até de uma eventual candidatura presidencial de Passos Coelho.

Numa livraria em Lisboa, pequena para acolher as dezenas de convidados da sessão de apresentação do livro Identidade e Família, Passos Coelho defendeu os entendimentos e condenou encenações políticas embora sem nunca se referir directamente ao PSD e ao Chega. “Temos de salvaguardar esta capacidade para nos entender. Sobretudo no plano da política, há uma intenção que é simbólica de linguagem para nos desentendermos ou nos fazermos de desentendidos. Acho que era preferível oferecer às pessoas uma imagem diferente: as pessoas estão fartas desse teatro, não é autêntico”, disse, reforçando a ideia de que é preciso lidar com os cidadãos com inteligência: “As pessoas não gostam de ser tratadas como invisíveis”.

Sem aludir à linha vermelha colocada pelo actual líder do PSD ao Chega, o antigo primeiro-ministro alertou para o afastamento dos cidadãos da política como consequência do desentendimento político. “É fundamental olhar para as pessoas que ficaram desiludidas nestes anos (…) e que deram um sinal muito claro nas últimas eleições de que estão cansadas disso. É bom que todos aqueles que receberam um sinal de confiança muito forte para pôr fim a isso que ponham realmente fim a isso e que dêem às pessoas razões para acreditar que vale a pena fazer um jogo diferente”, disse, afastando receios de que os espaços políticos se possam "diluir".

Passos sublinhou a necessidade de as pessoas “se entenderem colectivamente” e avisou que não se pode dizer aos eleitores que se tem “muito respeito pelas suas preocupações”, mas ignorar a escolha que fizeram nas eleições.

“Isso é um bocadinho um insulto às pessoas, não podemos dizer ‘estou muito preocupado com os seus anseios, mas se fizer esta escolha, daqui não leva nada, se fizer aquela escolha, comigo não fala’”, afirmou.

Condenando a ideia de exagero sobre o radicalismo — "eu fui muitas vezes fascista"—, o antigo chefe de governo elogiou a troca do símbolo da imagem do Governo por aquele que vigorava anteriormente decidida pelo primeiro conselho de ministros liderado por Luís Montenegro: “Medida muito simbólica, mas muito importante. Não podemos brincar com os símbolos.”

Depois de na campanha eleitoral ter falado na sensação de insegurança e a imigração, Passos Coelho voltou ao tema para criticar “as pessoas sensíveis” que o condenaram por associar as duas ideias na mesma frase. Defendeu que imigração “não se reduz a problemas de segurança, mas que “há problemas que têm de ser acautelados. “A Europa tardiamente está a tratar dessas coisas, Portugal está atrasado”, disse, gerando alguns risos na sala e palmas num dos vários momentos em que teve a cumplicidade da plateia sobre o seu discurso. Na assistência estava Nuno Melo, ministro da Defesa Nacional, e os deputados do Chega Rita Matias e Diogo Pacheco Amorim, além de outras personalidades que participaram no livro e que são conotadas com uma ala mais conservadora da sociedade.

Um outro tema caro à direita e que não escapou a Passos Coelho foi o da educação. “As famílias precisam de ser ajudadas na educação dos filhos, mas dificilmente o conseguiremos com uma espécie de sovietização do ensino com uma determinada perspectiva, que não é a maioria da sociedade e muito menos das famílias”, disse.

À saída, ainda dentro da sala, Passos Coelho trocou algumas palavras com Ventura. “Já nos cumprimentámos, já o felicitei pela eleição, e pela prestação que tem tido no Parlamento, temos sempre de reconhecer o mérito dos outros, muito bem”, disse, desejando um “bom mandato”. “[A intervenção] Foi brilhante”, respondeu o líder do Chega.

Em declarações aos jornalistas, Ventura considerou que foi um discurso inspirado nas “bandeiras do Chega” como a “ideologia de género, a questão da família, da imigração”. “Há um caminho que é de convergência na lógica do dr. Pedro Passos Coelho. Talvez essa convergência permita um candidato presidencial. Porque não Pedro Passos Coelho?”, questionou.

À chegada, o antigo primeiro-ministro tinha sido questionado pelos jornalistas sobre uma eventual aproximação ao Chega. Reagiu com ironia: “Não me diga? Eu sou do PSD. Acho que não há dúvidas sobre isso”.

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