Formação em Contexto de Trabalho: onde escolas e mercado de trabalho acertam o passo
“São sempre precisos dois para dançar o tango”, uma dança que oscila entre a sincronia total e o desafio e competição. Assim é a relação escolas e empresas, na formação profissional.
A Formação em Contexto de Trabalho (FeCT) é uma das características distintivas do ensino profissional (EFP). É esta componente que aproxima os jovens e as escolas do mercado de trabalho e dos profissionais das respectivas áreas. É também a FeCT que permite às empresas receber e participar na formação de profissionais com qualificações técnicas, científicas e socioculturais, contribuindo para que a sua formação responda às necessidades do mercado de trabalho.
Esta relação de paridade entre a escola e o mercado de trabalho não está isenta de tensões e conflitos, mas pode também criar um espaço de coesão, de encontro de interesses e de possibilidade de partilha de sinergias, resultando num grande contributo para a sociedade, nomeadamente para assegurar um "match" entre as qualificações e as necessidades do mercado de trabalho. Mas também com a empregabilidade, a produtividade e a economia; e, globalmente, a inclusão e a igualdade de oportunidades no acesso ao mercado de trabalho. Este par é, na verdade, um triângulo, porque no centro de todos os interesses, conflitos e coesão estão sempre os alunos.
O projecto We´ll Work VET (WWVET) foi um projecto Erasmus+ de cooperação entre instituições, que envolveu a Escola Secundária Francisco de Holanda (escola coordenadora), a Escola Secundária de Felgueiras, o Instituto Profissional de Hotelaria e Turismo Rocco Chinnici, da Sicília, Itália, e a Escola Profissional Centro de Tecnologia III Richard Hartmann, de Chemnitz, Alemanha. O projeto WWVET teve como objectivos globais: 1) envolver os estudantes e os docentes do ensino profissional em projectos internacionais e reforçar a internacionalização da oferta de EFP; 2) divulgar as melhores práticas nas escolas e nas empresas parceiras no âmbito da cooperação em FeCT; e 3) criar um manual de entendimento e boas práticas para a cooperação escola/empresa, envolvendo todas as partes. Contribuindo, assim, para o reforço das parcerias com o mercado de trabalho e para a qualidade do ensino profissional das escolas envolvidas, assim como para a valorização da imagem social e da atractividade do ensino profissional.
No WWVET estamos sempre a falar do triângulo escolas-alunos-empresas. O ponto de encontro deste triângulo pode ser precisamente o "ponto de encontro" que é a FeCT – experiências de formação formal realizadas num contexto real de trabalho e organizadas e monitorizadas em cooperação entre escolas e empresas.
Em 2000, a Estratégia de Lisboa, plano de desenvolvimento aprovado pelo Conselho da Europa, estabeleceu o investimento na educação e formação como o caminho e o meio para tornar a economia europeia competitiva e dinâmica e uma economia verdadeiramente baseada no conhecimento. Surgiu também a ideia de que o investimento no EFP era a chave para a sustentabilidade e a igualdade.
Lançado em 2002, o Processo de Copenhaga, da União Europeia, estabelece e reforça o investimento no EFP, sublinhando a necessidade de um diálogo contínuo entre as empresas e as escolas para adaptar constantemente os currículos às mudanças e às exigências do mercado. A FeCT aparece na Declaração de Copenhaga, desde o início, como a chave para o processo de cooperação entre escolas e empresas, proporcionando aos alunos a oportunidade de aplicar as suas competências em ambientes reais e adquirir competências adaptadas às necessidades do mercado de trabalho.
As Conclusões de Riga, aprovadas em 2015, sublinham a importância de uma colaboração estreita entre o sector da educação e o mercado de trabalho, para garantir que o EFP está alinhado com as necessidades reais e emergentes.
A Declaração de Osnabrück (2021) apelou ao EFP como facilitador da recuperação e de transições justas para economias digitais e “verdes”, salientando a importância do EFP como via para a prosperidade económica, a inclusão social e o desenvolvimento pessoal. E destacou a relevância de todas as partes interessadas, nomeadamente os prestadores de EFP e as empresas. Hoje, num cenário em que a sustentabilidade ambiental e a transição energética são prioritárias para a economia, a Comissão Europeia confia ao EFP a preparação de profissionais adaptados aos novos requisitos dos chamados "green jobs". Em 2023, Ano Europeu das Qualificações, chamou-se a atenção para a importância do EFP para a transição energética e para o futuro da economia europeia. A cooperação escola/empresa volta a ser convocada para definir as competências transversais emergentes. Mais uma vez, a FeCT pode ser a chave para o “match” entre o mercado de trabalho e a formação.
É sempre uma questão de escolas e empresas. Não existe EFP sem empresas. Não há resposta para as necessidades e desafios laborais numa sociedade moderna sem o EFP. "São sempre precisos dois para dançar o tango!" Tal como acontece no tango, os movimentos oscilam entre o sincronismo total até ao subtil desafio e competição entre pares. Mas este tango é uma dança que contribui para o desenvolvimento económico, o emprego, a promoção da igualdade de oportunidades, a inclusão social e a criação de uma força de trabalho qualificada e flexível.