A liberdade morrerá no exílio?

Sei que o governo do país, durante os últimos anos, teve domínios inovadores e muito positivos, geriu em condições particularmente difíceis, mas esteve desatento à realidade.

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Os resultados das recentes eleições para a Assembleia da República justificam o título, porque os jovens que emigram não podem morrer no exílio e com eles a liberdade.

Não estou seguro de que o caminho que se está a seguir o impeça.

Há anos, António Guterres, com o humanismo que lhe reconhecemos, adotou um slogan numa campanha partidária do PS que nos alertava que “as pessoas não são números”.

Ao ouvir alguns números que o governo em exercício nos debitava, sobre o aumento do poder de compra, tropecei várias vezes com a realidade desmentindo aquela verdade estatística.

É que o exorbitante valor das rendas, o preço por metro quadrado da habitação e a inflação estão na base da opção do exílio pela sobrevivência dos melhores quadros da nossa juventude.

Esta é a realidade, nua e crua, de que as estatísticas não falam, não esquecendo a deficiente resposta de serviços públicos essenciais, como a Justiça, o SNS e a Educação.

Não se planificou atempadamente o que se devia, neste mundo incerto, sob o espectro de uma guerra, e também nele o papel insubstituível de Portugal no mundo, o primeiro a defender o primado da vida, logo, da sobrevivência, e o orgulho que devemos ter nele.

Sou socialista e sei que o socialismo democrático é o caminho do futuro, como a pandemia o demonstrou, porque é falsa a ideia de que a menos Estado corresponde melhor Estado.

O que a história demonstra é que o Estado, legitimado pela autoridade democrática, deve ser o regulador de um mercado livre, que há nele empresas estratégicas que devem também estar sob o seu controlo, como também as atuais e tardias exigências da reindustrialização o evidenciam.

Há ainda desígnios que, por a todos respeitarem, estão para além de objetivos partidários.

Sei que o governo do país, durante os últimos anos, teve domínios inovadores e muito positivos, geriu em condições particularmente difíceis, mas esteve desatento à realidade que está para além da estatística.

Porque não fulanizo a política, a crítica que não escondo é política e jamais pessoal, respeitando todos os que tiveram responsabilidades partidárias e governativas.

Como cidadão e socialista, tenho a plena consciência da necessidade de o afirmar, alertando como posso, como neste artigo, para que os jovens que emigraram e os que desejam fazê-lo não morram no exílio e com eles a liberdade há 50 anos reconquistada e este ano comemorada.

Ainda com a lembrança da personalidade que tanto lutou por ela, Mário Soares, no ano em que, coincidentemente, se celebra o centenário do seu nascimento.

É que os eleitores demonstraram estar zangados, exigindo respostas políticas inovadoras.

Agora, no que respeita ao PS, o seu novo líder, a quem não falta determinação, espírito de servir e coragem, tem a tarefa de mobilizar todo o partido, em liberdade, para um debate profundo sobre as causas dos resultados que os eleitores quiseram que ocorressem, clarificando a linha de rumo do futuro em articulação com a sociedade.

Unindo o que deve ser unido, com a posição já assumida de o PS passar a ser uma oposição com princípios e valores, em diálogo com quem, não tendo o mesmo ideário, deseja que a democracia continue a ser a base do regime.

Em síntese, para que os jovens que emigram não morram no exílio e com eles a liberdade.

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