Sabíamos, desde que a coligação foi anunciada, que Gonçalo da Câmara Pereira pouco ou nada participaria na campanha, sob pena de envergonhar Montenegro e toda a cúpula do PSD. O líder da AD puxou por dois trunfos: por um lado, Nuno Melo; pelo outro, Pedro Passos Coelho. Trazendo-os para o palco principal da campanha, quis “ter o bolo e comê-lo”: remeter para os tempos da PàF e dar uma alternativa de direita ao país, socorrendo-se da insatisfação com a governação do PS, e, simultaneamente, dizer que tudo será diferente, ainda que com os mesmos atores.
Os reformados e pensionistas perfazem uma grande fatia de população e são, tipicamente, mais assíduos no voto. Correspondem também àquela parcela do eleitorado que é cética ao PSD desde os tempos da troika por tudo o que passaram durante a governação de Passos Coelho. Aqui reside o problema: ninguém em Portugal vence eleições sem o voto dos idosos. Por muito que Montenegro e Nuno Melo se esforcem por dizer que “Passos não tinha alternativa” e que “foi o Partido Socialista que chamou a troika”, a quem teve de escolher entre comer ou medicar-se depois de uma vida inteira de trabalho, pouco importam estas justificações.
De resto, há dois problemas nesta explicação. O primeiro é que também o PSD se comprometeu com a implementação do Memorando de Entendimento em 2011. O segundo é que, a menos que fôssemos crianças na altura, todos nos recordamos de quando se falava em “ir além da troika” e do pouco caso que o então primeiro-ministro fez das dificuldades em que o memorando deixou muito portugueses, depois de uma campanha em que garantiu variadíssimas vezes que tal nunca aconteceria.
Os reformados e pensionistas não se esquecem de uma das fases mais traumáticas da nossa História recente. O que terá este eleitorado pensado quando ouviu Montenegro dizer que pretendia “reconciliar-se com os reformados” e, logo a seguir, trouxe Pedro Passos Coelho para discursar? É complicado entender o que terá passado pela cabeça de Luís Montenegro e de Pedro Esteves, seu diretor de campanha, para concluírem que esta seria uma boa forma de reconquistar eleitorado pensionista. Não é de espantar, portanto, a receção que o líder da AD teve em Portalegre por duas idosas que não deixam esquecer o que a última governação PSD-CDS fez às suas reformas.
Montenegro teve uma boa oportunidade de fazer um mea culpa, validar as preocupações das reformadas que o interpelaram e demonstrar intenções diferentes. Tentar justificar ações condenadas por um eleitorado que muito sofreu com elas e que ainda hoje é o principal problema do PSD não parece ser a opção mais sensata. E como se os estragos não fossem suficientes, a forma como Nuno Melo lidou com a situação não foi nada senão lamentável. Nenhum eleitor gosta de sentir que os candidatos o enxovalham e talvez isso tenha contribuído para o eclipse do CDS no parlamento. A ver vamos se o PSD lhe tomará o caminho no dia 10 de março.