A importância do não
Este texto de Isabela Figueiredo inicia uma série de trabalhos para assinalar os 34 anos do PÚBLICO (5 de Março). Quatro autoras do mundo da cultura vão escrever sobre o que é ser mulher em liberdade.
Eu ia conversando com a massagista. Ela tinha começado pelos meus pés e já ia nos braços. Contava-me que a filha mais nova tem medo de cães. Debatíamos a fobia. Eu discorria sobre a necessidade de os cães correrem livremente e de interagirem uns com os outros, de acordo com a sua natureza, e sobre a minha reticência em passeá-los de trela. A massagem foi decorrendo e as suas mãos saltaram para a coluna cervical, enfiaram-se no músculo trapézio e ouviu-se um ruído ligeiramente crocante. Eu gemi. Ela exclamou “como é que me aparece aqui com estes ombros?” A questão era retórica. Mas precisava de concluir o raciocínio anterior. Fui buscar forças à dor e rouquejei, “é que, para mim, a liberdade é um assunto muito importante.” Foi um fio de voz quase inaudível, só para que não restasse dúvida. Porque a liberdade é tão importante como declará-lo. Ela respondeu “eu sei”. Não dissemos mais nada. Eu precisava de gemer e ela tinha muito trabalho no meu corpo.
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