Write ‘n’ Let Go: U Minho convida estudantes a escreverem o que sentem

A escrita pode diminuir o sofrimento psicológico e a ruminação. Por isso, este projecto da Universidade do Minho convida estudantes a escrever sobre os seus sentimentos.

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Com a escrita, os estudantes os universitários vão reflectir sobre os seus problemas e ressignificá-los Getty Images
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Pelo segundo ano consecutivo, o projecto Write 'n' Let Go, da Universidade do Minho, quer por os estudantes universitários a escrever e a reflectir sobre as suas emoções e dificuldades de vida como forma de os ajudar a ultrapassar o sofrimento psicológico.

“Vivemos num mundo cheio de informação e estímulos, em que as pessoas têm pouco espaço para parar e reflectir sobre os sentimentos, e a escrita é vista como uma forma para conseguirmos fazer isto”, explica ao P3, o investigador do Centro de Investigação da Escola de Psicologia, da Universidade do Minho, responsável pela iniciativa, João Batista.​

“A ideia é a pessoa deixar-se ir, escrever livremente, sem se preocupar com a pontuação ou com os erros gramaticais e reflectir sobre o que está a sentir.”

Então, como vai funcionar? Para participares no Write 'n' Let Go 2.0, tens de te inscrever no site, responder a algumas perguntas e identificar o problema sobre o qual vais escrever. Algumas dessas primeiras perguntas podem ser algo como “Qual é o papel das pessoas no meu problema?”, “Como é que o meu problema afecta as outras pessoas?”, “O que posso aprender com esta dificuldade?” ou “O que posso fazer para a resolver?”.

Depois de inscrito, durante uma a duas semanas, terás de completar quatro tarefas e responder a algumas questões sobre os teus problemas. A iniciativa está disponível para universitários com mais de 18 anos, de qualquer grau académico, fluentes em português e com o “perfil adequado ao estudo”, lê-se na página do Instagram. Isto quer dizer que não podem “apresentar comportamentos de risco, ideação suicida e/ou sintomatologia severa de depressão”.

Podes inscrever-te até ao final do ano.

Explorar emoções de forma autónoma

“Pode parecer muito simples convidar alguém a escrever durante 15 a 20 minutos” sobre as suas emoções ou pensamentos, afirma o investigador. Contudo, com a escrita, as pessoas apercebem-se de novos aspectos dos seus problemas e "contemplam ideias que nunca tinham considerado".

A expectativa dos investigadores é que, com a intervenção escrita, os participantes consigam, ao seu ritmo e de forma autónoma, explorar e confrontar emoções que normalmente evitam. “O ganho principal [que os estudantes podem ter] é a consciência”, refere João Batista. “Esta intervenção não vai mudar necessariamente a vida da pessoa, pode é esclarecê-la e ajudá-la a perceber porque é que tem um problema, porque é [uma questão] tão difícil para si e o que tem de fazer para a resolver”, nota.

Na primeira edição, a equipa de investigadores composta ainda pelo professor Miguel Gonçalves e pela aluna Janine Marinai da Escola de Psicologia da Universidade do Minho, observou que, ao longo das intervenções escritas, os participantes apresentaram uma diminuição da ambivalência e, consequentemente, da ruminação e do sofrimento psicológico.

A ambivalência acontece quando “temos sentimentos opostos em relação a uma determinada questão”, afirma João Batista. Podemos sentir-nos ambivalentes quando queremos mudar uma coisa na nossa vida, mas não sabemos como o fazer ou se vamos gostar do resultado. Ao longo dos exercícios de escrita, “observamos que as pessoas ficam menos ambivalentes e percebem que podem mudar”. Em resultado, a ruminação, que se traduz “na tendência de a pessoa pensar de forma repetitiva num determinado tema” e o sofrimento psicológico, que se manifestava com “noites mal dormidas ou perdas de apetite”, também diminuíram.

No balanço da primeira edição, os investigadores determinaram que o stress e a ansiedade desencadeados pelos exames e apresentações e a falta de motivação foram os problemas inseridos no contexto académico mais apontados pelos estudantes. Ainda assim, questões mais individuais, como o luto de pessoas e de relações e traumas, como o abuso sexual, também foram abordadas nos primeiros textos.

Ao levar os participantes a ponderar sobre os seus problemas, o projecto pretende actuar exclusivamente ao nível da prevenção e não dos diagnósticos. “Ao fazerem uma actividade deste género, as pessoas que até conseguem gerir minimamente o stress ou as suas dificuldades, estão a promover o seu cuidado psicológico, a sua saúde mental e o seu bem-estar”.

No fim do projecto, os dados pessoais como o nome e o email, são eliminados e os investigadores tratam exclusivamente os dados sociodemográficos e os textos. À semelhança da primeira edição, as conclusões desta segunda edição vão ser partilhadas num artigo científico.

Texto editado por Inês Chaíça

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