A Matemática e os dedos da mão

Nos primeiros anos de vida, as mãos desempenham um papel crucial na interação da criança com o mundo, pois é através das mãos que a criança conhece o mundo que a rodeia.

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As crianças conseguem internalizar os dedos da mão enquanto representações numéricas Adriano Miranda/Arquivo
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A matemática é fundamental para todas as atividades que realizamos diariamente. Até as tarefas mais básicas do nosso dia a dia exigem conhecimentos matemáticos, como colocar a mesa, ir às compras, apanhar o autocarro, entre muitas outras.

Esta é uma das disciplinas base para toda a aprendizagem escolar, contudo existem muitas crenças negativas associadas a esta área que, infelizmente, ainda hoje é descrita por muitos alunos como “difícil”.

Cientificamente, está comprovada a importância dos dedos no desenvolvimento das habilidades numéricas iniciais. Nos primeiros anos de vida, as mãos desempenham um papel crucial na interação da criança com o mundo, pois é através das mãos que a criança conhece o mundo que a rodeia.

A prática da dactilonomia, entendida como o processo de exprimir números mostrando os dedos, levantando uns e encolhendo outros, tem-se revelado como determinante para a compreensão dos números, mesmo antes do início da educação formal. A investigação tem mostrado que existe uma relação estreita entre a representação de quantidades com recurso aos dedos da mão e o desenvolvimento de competências matemáticas.

Paralelamente, a investigação tem revelado que existe uma relação entre a coordenação motora fina, a gnosia digital (habilidade sensorial de discriminar os dedos com recurso a um esquema mental) e o desenvolvimento das habilidades numéricas básicas ao longo da primeira infância.

De acordo com estes dados, a investigação sugere que através da prática repetida da dactilonomia, as crianças conseguem internalizar os dedos da mão enquanto representações numéricas.

Investigadores internacionais analisaram o papel da coordenação motora fina no desenvolvimento da capacidade de representar grandezas numéricas com os dedos e concluíram que a capacidade de as crianças representarem os números com os dedos, bem como as suas competências numéricas, estavam relacionadas com a destreza manual.

Os estudos com recurso a neuroimagem mostram que o cérebro possui redes neurais que controlam os movimentos dos dedos e que os percecionam e representam mentalmente. Estes dados permitiram comprovar que a rede de gnosia digital é ativada no cérebro durante a resolução de problemas matemáticos, ou seja, o nosso cérebro visualiza a representação dos dedos quando estamos a fazer contas.

Inclusivamente, os neurocientistas cognitivos identificaram uma região específica no cérebro que se dedica à perceção e representação dos dedos da mão. Estes descobriram que quando eram apresentados problemas complexos de subtração as crianças ativam esta área cerebral. Estas informações vêm confirmar a importância da gnosia digital na resolução de problemas de subtração.

Os resultados destes estudos comportamentais e neurocientíficos vêm apoiar as práticas educativas que promovem o uso dos dedos enquanto elo entre as representações mentais e as representações simbólicas dos números. É de salientar que as práticas educativas que recorrem aos dedos da mão constituem abordagens naturais para o desenvolvimento das habilidades numéricas, ajudando as crianças nas primeiras fases de desenvolvimento das habilidades numéricas.

Assim, a ciência vem comprovar que uma das formas de ajudar as crianças a interiorizar e compreender os números e os conceitos matemáticos passa pelo uso dos dedos da mão, técnica esta que se utiliza desde sempre e que se deve continuar a utilizar durante muito tempo.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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