Nos EUA, os eléctricos estão a desacelerar. E a Toyota a recuperar com os híbridos

Toyota supera rivais nos EUA à medida que mais consumidores optam por híbridos num contexto de abrandamento dos veículos eléctricos.

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Os híbridos representaram 9,3% dos novos registos de ligeiros de passageiros nos Estados Unidos de Janeiro a Novembro de 2023 Reuters/ANUSHREE FADNAVIS

Quando Tony Le decidiu comprar um carro novo com a sua mulher no ano passado, olhou para a Tesla e outros modelos totalmente eléctricos. No final, o trabalhador tecnológico de Modesto, Califórnia, de 37 anos, optou por um Toyota RAV4 Hybrid devido à preocupação de ficar encalhado com um veículo puramente eléctrico, uma bateria descarregada e nenhuma estação de carregamento à vista.

“Por vezes, quero brincar com os veículos eléctricos (EV) só por causa da velocidade e do binário. Mas para uma utilização prática... não fazia sentido”, disse Le, que conduz frequentemente da Califórnia para o estado de Washington, uma distância de mais de 3700 quilómetros (mais do que ir de Lisboa a Paris e voltar), para trabalhar.

Tony Le está entre o número crescente de consumidores que aceleram as vendas de veículos híbridos nos EUA, deixando a Toyota na pole position para ultrapassar os rivais que têm vindo a fazer uma rápida transição para a electrificação total e que agora se debatem com o enfraquecimento da procura de EV.

As elevadas taxas de juro e as perspectivas económicas incertas também levaram muitos fabricantes de veículos eléctricos a reduzir os seus objectivos de produção e a alertar para o abrandamento do crescimento das vendas nas últimas semanas.

A Toyota, no entanto, deverá apresentar uma perspectiva mais optimista quando comunicar os seus resultados na terça-feira, ajudada pela sua forte dependência dos híbridos, que representaram cerca de um terço das suas vendas totais de 11.233.039 de veículos, no mundo inteiro, no ano passado.

“Praticamente todos os modelos que vendemos agora são exclusivamente híbridos ou têm uma variante híbrida”, disse Greg Davis, director-geral da Walser Toyota, um concessionário no Minnesota, à Reuters.

Segundo Davis, o seu concessionário está a tentar aumentar o número de veículos híbridos que vende para 40%-50% do total de vendas, numa altura em que a Toyota está a tentar tornar o seu sedan mais vendido no mercado dos EUA, o Camry, disponível apenas numa versão híbrida.

A Toyota já declarou que a próxima geração do Camry será exclusivamente híbrida, o que constitui a sua iniciativa mais ousada para promover a tecnologia em que foi pioneira com o Prius, lançado há mais de um quarto de século.

Apesar do aumento das vendas a curto prazo que se espera que a Toyota registe, os analistas alertam para o facto de o maior risco que o fabricante de automóveis mais vendido do mundo enfrenta ser o de continuar a ser um retardatário nos veículos eléctricos de bateria pura, que são amplamente vistos como o futuro a longo prazo da indústria automóvel.

“O maior risco da Toyota é a adopção dos BEV (veículos eléctricos a bateria) pelos consumidores”, afirmou Stephanie Brinley, directora associada da S&P Global Mobility.

“Se a adopção dos BEV por parte dos consumidores voltar a mudar e acelerar, a Toyota poderá não estar totalmente preparada com soluções competitivas” da energia.

A Toyota vendeu apenas 104 mil veículos eléctricos a bateria no ano passado, menos de 1% das suas vendas totais, incluindo da sua marca de luxo Lexus. A Toyota planeia aumentar as vendas para 1,5 milhões de veículos eléctricos até 2026, abaixo das vendas de 1,8 milhões de veículos previstas pela Tesla para 2023.

A Toyota adopta uma abordagem “multicaminhos” para satisfazer as necessidades dos clientes em todos os mercados e o presidente Akio Toyoda afirmou no mês passado que os veículos eléctricos a bateria atingiriam uma quota de mercado de 30%, no máximo, com os híbridos, os veículos a células de combustível de hidrogénio e os veículos a combustível a constituírem o restante.

Longas esperas pelas entregas

As vendas de híbridos nos EUA têm vindo a aumentar, uma vez que os consumidores se recusam a suportar os elevados preços dos EV e estão preocupados com a autonomia dos automóveis eléctricos, especialmente nas zonas rurais, onde podem existir longas distâncias entre as estações de carregamento.

Os EV a bateria não são tão amplamente aceites no Midwest como o são na Costa Oeste e noutras partes dos Estados Unidos, disse Davis.

Mas a procura de híbridos é tão forte que os compradores têm de esperar cerca de um ano para receber as entregas de alguns modelos, como o veículo multiusos Toyota Sienna (indisponível em Portugal), e pagar os preços de retalho sugeridos pelo fabricante, disse ele.

Em contraste, a Tesla, que tem vindo a oferecer cortes acentuados nos preços desde o ano passado nos principais mercados, sofreu uma redução da margem dos veículos no último trimestre e alertou para o abrandamento da procura de veículos eléctricos este ano.

Os híbridos representaram 9,3% dos novos registos de ligeiros de passageiros nos Estados Unidos de Janeiro a Novembro de 2023, superando os de EV em 1,8 pontos percentuais, de acordo com dados da S&P Global Mobility.

Isso está a beneficiar a Toyota, que foi a maior vendedora de híbridos nos EUA com mais de um terço dos novos registos, seguida pela Honda Motor com 20%, a sul-coreana Hyundai Motor (e a sua afiliada Kia) e a Ford Motor.

A CEO da General Motors, Mary Barra, disse esta semana que a sua empresa vai lançar veículos híbridos plug-in na América do Norte, afastando-se de uma estratégia de ignorar os grupos motopropulsores híbridos naquele continente.

Os analistas esperam que a Toyota registe um aumento de 40% nos lucros operacionais de Outubro-Dezembro, de acordo com dados da LSEG.

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