A enigmática “Doença X”: estratégias que podem revolucionar a Saúde

É imperativo combater a desinformação e a falta de interesse político que dificultam a prevenção e o controlo de novas pandemias.

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A "Doença X", introduzida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2018 e recentemente debatida durante o Fórum Económico Mundial, é uma designação fictícia de uma potencial nova pandemia, com impacto global, que poderá ser um vírus, uma bactéria ou um fungo, para a qual não sabemos se estamos preparados.

Daí que a OMS esteja a trabalhar num tratado global com especialistas em todo o mundo e num fundo para pandemias. Este movimento estratégico representa o reconhecimento da necessidade de antecipar potenciais ameaças à saúde e de unir esforços para estudar e desenvolver estratégias preventivas contra a Doença X.

Paralelamente, o conceito de “One Health” (ou Uma Só Saúde) emerge como uma abordagem holística da inegável interconexão entre a saúde humana, animal e ambiental que exige uma ação concertada de diferentes entidades mundiais, de forma a implementar estratégias de controlo e prevenção de doenças infeciosas de forma integrada.

A história demonstra que o desequilíbrio nestas três áreas fundamentais pode resultar em disrupções significativas, como ocorreu em pandemias passadas cuja origem esteve maioritariamente associada à exposição ambiental ou a animais (zoonoses). Ainda que enfrentemos vários obstáculos que afetam cada região de forma distinta, é possível identificar, independentemente da dimensão e situação socioeconómica, desafios comuns a vários países, tais como a falta de planos operacionais, o financiamento insuficiente para a implementação dos planos de ação “One Health”, a escassez de pessoal qualificado em todos os níveis de cuidados, a falta de indicadores harmonizados para monitorizar a execução dos planos, a aquisição limitada de conhecimentos sobre medidas de prevenção e controlo de infeções na educação e formação, e, sem dúvida, as perturbações causadas pela pandemia de covid-19 no setor da saúde.

Somam-se a estas dificuldades, a crescente globalização de pessoas, animais e alimentos; as alterações climáticas, que afetam todos os ecossistemas; a pressão massiva e seletiva da exposição a diferentes substâncias (como antimicrobianos e outros fármacos, pesticidas) a que sujeitamos os microrganismos e o ambiente que os rodeia; o nosso contacto crescente com a vida selvagem; a subnutrição, a urbanização, migração e deslocações em massa, guerras e conflitos, que contribuem para a evolução constante dos microrganismos que, tal como nós, também têm que se adaptar a novos cenários.

Esta combinação multifatorial faz com que uma Doença X se possa propagar mais rápido do que nunca. É imperativo combater a desinformação e a falta de interesse político que dificultam a prevenção e o controlo de novas pandemias. Em Portugal, os primeiros passos científicos estão a ser dados desde 2021, com um grupo de investigação (o 1H-TOXRUN) dedicado ao estudo da One Health. Mas é necessário muito mais.

É urgente implementar planos de resposta ágeis, estabelecer sistemas de vigilância robustos com partilha de informações entre países e grupos de investigação, garantir a disponibilidade adequada de equipamentos médicos, vacinas e medicamentos, e simultaneamente promover a formação contínua dos profissionais de saúde e elevar a literacia em Saúde a nível global.

É crucial contrariar o subinvestimento crónico na prevenção, com uma abordagem coordenada, colaborativa, multidisciplinar e trans setorial para abordar os riscos potenciais ou existentes que têm origem na interface Animais-Homem-Ambiente.

As doenças infeciosas não têm fronteiras, mas podemos, pelo menos, mitigar o impacto da iminente Doença X.

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