A promessa é que podem bastar cinco a dez minutos diários para retardar os efeitos do tempo no nosso rosto. Uma promessa que chega às redes sociais com diferentes propostas e técnicas — algumas inspiradas na cultura oriental, como o ioga facial, outras como a fisioterapia dermatofuncional, que actua desde a prevenção ao tratamento — para reduzir o duplo queixo, os papos dos olhos ou para suavizar as rugas. Enquanto os amantes destes métodos asseguram os seus benefícios, os mais cépticos olham para estas técnicas com desconfiança. Nuno Fradinho, presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia Plástica Reconstrutiva e Estética (SPCPRE), declara: “Não existe qualquer evidência científica que comprove a eficácia destes tratamentos a longo prazo”, sobretudo no que diz respeito ao combate à flacidez da pele.
“Bem-vinda ao mundo do autocuidado consciente e natural!” É assim que começa o livro de Paula Sá, que dá a conhecer o ioga facial e que ensina o leitor a praticar exercícios faciais. Yoga Facial foi lançado em Outubro passado e reflecte o aumento da popularidade deste método — as massagens e os exercícios faciais tendem a associar-se a exercícios de respiração, relaxamento, correcção da postura corporal e melhoria da dieta.
A formação de Paula Sá é em fisioterapia e foi em França, há quatro anos, que se deparou com o ioga facial, ao especializar-se em iogaterapia na saúde da mulher. “O método em si fascinou-me. Conseguir um rosto mais jovem, firme e saudável activando os músculos do rosto parecia-me uma descoberta simplesmente incrível”, conta. Por isso, começou a pesquisar e a aprender. Em paralelo, começou a praticar os exercícios e as massagens e ficou “absolutamente entusiasmada” com os resultados. Mas o maior benefício que sentiu “não foi físico”, foi o facto de começar a gostar e a cuidar mais de si, revela no livro.
Foi então que decidiu trazer o método para Portugal. Primeiro, começou a publicar conteúdos nas redes sociais, depois, surgiu o podcast, começou a dar aulas, a desenvolver workshops e a formar professores em ioga facial. Ao PÚBLICO, Paula Sá explica como funciona este método: os exercícios ajudam a tonificar os músculos do rosto e a rejuvenescer, assim como ajudam a relaxar os músculos mais tensos e contraídos (aqueles que provocam rugas de expressão). Por sua vez, “a massagem ajuda a eliminar toxinas, impurezas, a aumentar a circulação sanguínea que vai melhorar a nutrição das células e as funções destas”, diz. Isto vai, “melhorar a produção natural de colagénio, elastina e ácido hialurónico e prevenir o envelhecimento”, acrescenta. A pele acaba por se tornar mais luminosa, homogénea e limpa, resume.
Efeitos a longo prazo
Apesar de estas técnicas serem úteis para suavizar papos, olheiras e o duplo queixo e para tornar o rosto mais liso, não conseguem remover rugas mais vincadas, reconhece Paula Sá. A fisioterapeuta dermotofuncional Georgeta Munteanu diz ao PÚBLICO, por escrito, que as massagens e os exercícios faciais “podem ajudar a melhorar o aspecto do rosto durante o período em que estas técnicas são realizadas”; e confirma que “os exercícios podem melhorar a microcirculação e, com isso, a capacidade da regeneração dos tecidos”.
Contudo, a também influencer na área de cosmetologia avançada confessa que “não gosta de depositar muitas expectativas [num tratamento] quando se sabe tão pouco”. De notar que, embora o ioga seja uma prática ancestral, não existem muitos estudos científicos sobre esta. E Georgeta Munteanu continua: “A massagem e os exercícios têm respostas fisiológicas, benéficas, no momento. Mas e a longo prazo?”, questiona. Também o cirurgião plástico Nuno Fradinho, presidente da SPCPRE declara que “não existe qualquer evidência científica que comprove a eficácia destes tratamentos a longo prazo”, principalmente quanto ao combate da flacidez da pele.
Paula Sá responde que, por vezes, os resultados podem ser suficientes, ao ponto de a pessoa não querer fazer uma cirurgia estética. A especialista já teve mais de 300 alunas e já formou cerca de 50 professoras que atestam os resultados e que também começaram a partilhar os benefícios desta prática. Para esta comunidade, mais do que um método que ajuda a transformar o rosto, o ioga facial é uma forma de autocuidado e de amor-próprio.
Apesar de as pessoas poderem notar alguns resultados, Nuno Fradinho considera esses “relatos são enviesados”. Afinal, “quem está a fazer estas massagens e exercícios quer sempre acreditar que está a funcionar” e, por isso, “vai ter um olhar enviesado da situação”, afirma, embora reconheça que estas práticas podem melhorar a vascularização da face e a hidratação, potenciar o suplemento sanguíneo do rosto e a absorção de substâncias, como as dos cremes. “O aspecto geral da pele pode melhorar”, logo depois de estas técnicas serem aplicadas, e o rosto pode ficar mais tonificado se as pessoas fizerem estes exercícios e massagens diariamente e várias vezes ao dia. No entanto, “não há resultados a longo prazo”, insiste.
Cinco a dez minutos de exercícios ou massagens faciais desencadeiam “uma pele mais lisa e luminosa ao fim da primeira semana”, garante Paula Sá ao PÚBLICO. Dependendo dos cuidados que as pessoas já têm, do tipo de técnicas aplicadas, dos estilos de vida e dependendo dos tipos de rosto, os resultados graduais podem ser visíveis ao fim de um mês.
Georgeta Munteanu e Paula Sá partilham com o PÚBLICO um estudo sofre os efeitos do ioga facial no rejuvenescimento do rosto mais envelhecido, publicado em 2018. Segundo a fisioterapeuta dermatofuncional, foram notadas “diferenças significativas” no envelhecimento e na satisfação dos participantes. No entanto, a investigação envolveu “poucos participantes e não houve grupo de controlo”.
Apesar da adesão e da maior partilha de informação, Paula Sá gostava que estes tratamentos fossem mais estudados para se combater a falta de conhecimento associada ao método e reconhecer os resultados destas práticas. “Ao cuidarmos de nós, estamos a cuidar da nossa saúde mental, e se fazer ioga facial vos faz bem, nem que seja pelo tempo que dedicam a cuidar de vocês mesmas, eu fico feliz”, conclui Georgeta Munteanu.
Texto editado por Bárbara Wong