Geração Windrush: carta a Rishi Sunak conta com o apoio de actores e músicos
O escândalo foi descoberto em 2018, mas a maioria das vítimas — emigrantes caribenhos ilegalmente detidos ou até deportados — ainda está por indemnizar. Protesto é liderado pelo actor Colin McFarlane.
Numa carta aberta dirigida a Rishi Sunak, primeiro-ministro britânico, e ao líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, a Justice4Windrush (organização de apoio à chamada "geração Windrush", a primeira vaga de migração das antigas colónias britânicas nas Caraíbas para o Reino Unido) reivindica um processo mais célere e menos burocrático de indemnização aos emigrantes que ao longo de décadas se viram ilegalmente detidos, deportados ou de algum modo penalizados por não conseguirem provar a legalidade da sua permanência no país. O líder da nova onda de protestos é o actor Colin McFarlane, da série Outlander. Entre os subscritores estão também a actriz Hannah Waddingham, de Sex Education, o actor Adrian Lester, a cantora Annie Lennox, o rapper AJ Tracey e o apresentador de televisão Jay Blades.
Desde que o esquema de compensações foi instituído, em Abril de 2019, já mais de 40 requerentes morreram sem receber qualquer indemnização, num processo que envolve a apresentação de inúmeras provas documentais. A expressiva vaga de imigração de cidadãos caribenhos no período compreendido entre 1948 e 1971 foi em muito motivada pela necessidade de mão-de-obra para a reconstrução do país após a Segunda Guerra Mundial. Mas muitos dos cidadãos lesados pelo viés racial do sistema legal britânico já nasceram no Reino Unido.
Mesmo os que conseguiram ficar se viram confrontados com dificuldades: a partir de 2012, com Theresa May como ministra do Interior, os então considerados imigrantes ilegais deixaram de ter acesso a quaisquer tratamentos públicos de saúde, ou de poder criar contas bancárias, assumir contratos de telefone ou ser titulares de cartas de condução. “Foram traídos pela nação que lhes prometeu um lar”, escreve o actor Colin McFarlane no site criado para o efeito.
“O nosso objectivo é manter a questão da [geração] Windrush no centro das atenções, para que finalmente se faça justiça”, reforça a cantora Annie Lennox. O descontentamento face à demora do Governo é tal — a situação é de conhecimento público desde 2018 — que o próprio advogado que concebeu o esquema de compensação governamental, Martin Frode, se juntou à campanha.
No vídeo lançado na segunda-feira, algumas vítimas expõem o passado que ainda se faz presente: “fomos convidados para vir e ajudar a reconstruir a pátria-mãe”, “fui enviado para um país que já tinha deixado há mais de 50 anos”, “fomos traumatizados”, dizem. Perante estes testemunhos, as figuras públicas e restantes signatários perguntam: “Porquê?”.
“O escândalo do Ministério do Interior que afectou a geração Windrush ainda não acabou, mas 90% do país pensa que sim”, afirma Colin McFarlane, citado pelo The Independent. Para o líder do protesto, a solução apresentada em 2019 não só reforça um “trauma prolongado” como constitui “mais uma ilustração da discriminação de décadas do Ministério do Interior contra os imigrantes não-brancos”.
A Justice4Windrush defende que o processo deve ser retirado das mãos do Ministério do Interior e entregue a uma organização independente e neutra. Isto porque alguns dos queixosos pretendem apresentar queixa contra o gabinete actualmente encabeçado por James Cleverly. Os signatários pedem também que seja garantida assistência jurídica a estes lesados. A organização também apela a que se retome o Grupo de Trabalho Windrush, criado em Junho de 2020 e dissolvido pelo Ministério do Interior em Setembro de 2023.
De acordo com um porta-voz do Ministério do Interior, citado pelo The Guardian, a transferência dos processos para um organismo não-governamental poderia perturbar o trabalho em curso e atrasar significativamente os pagamentos. “O governo continua absolutamente empenhado em corrigir os erros do escândalo Windrush”, frisa.
Até ao final do passado Novembro, o governo inglês já tinha gastado mais de 75 milhões de libras (cerca de 87 milhões de euros) em indemnizações, de acordo com os dados publicados pelo Ministério do Interior britânico no início de 2024. A Justice4Windrush recorda por sua vez que até ao momento menos de 15% dos mais de 15 mil lesados foram compensados.
O apelido dado a esta geração de migrantes da Commonwealth vem do nome do barco que transportou a primeira leva de caribenhos para o Reino Unido — o navio HMT Windrush. A embarcação saiu de Kingston, na Jamaica, e aportou em Tilbury, na Inglaterra. O primeiro grupo, de cerca de 500 pessoas, desembarcou a 22 de Junho de 1948.
Texto editado por Inês Nadais