Chama-se Endotest e quer facilitar a forma como se faz o diagnóstico de endometriose — usando apenas a saliva. É "promissor", de acordo com as autoridades de saúde francesas, que anteciparam a aprovação deste teste no âmbito de um programa de inovação. Desta forma, a start-up de biotecnologia Ziwig que desenvolveu o teste, sediada em Lyon, vai poder recolher mais dados sobre a eficácia à medida que vai sendo utilizado.
Este teste quer ser uma resposta à dificuldade que existe em fazer um diagnóstico de endometriose, apesar das dores e desconforto associados. Actualmente, o diagnóstico implica exames invasivos e dolorosos como a observação clínica, ecografia pélvica, ressonância magnética pélvica ou até procedimentos cirúrgicos. As pessoas com endometriose têm um desenvolvimento irregular do endométrio, o tecido que reveste o útero, que cresce para outras partes do corpo como a zona pélvica, bexiga ou intestino, e provoca dores, muitas vezes incapacitantes, durante a menstruação, relações sexuais ou quando se vai à casa de banho.
A endometriose é uma doença que afecta 190 milhões de pessoas em todo o mundo, de acordo com os dados da Organização Mundial da Saúde. Em Portugal, estima-se que afecte 10% das mulheres em idade fértil.
Através da recolha de saliva, o Endotest recolhe vários biomarcadores para fazer o diagnóstico. Segundo a entidade reguladora de saúde de França, esta forma de diagnóstico é “inovadora” e pode ser “muito eficaz”.
Em Junho de 2023, foi publicado na revista científica The New England Journal of Medicine uma análise preliminar da eficácia deste teste, que recorre a Inteligência Artificial para analisar os biomarcadores recolhidos através da saliva.
Apesar de se tratar de uma doença ginecológica, é possível identificar a endometriose através da saliva. “Vários estudos têm demonstrado uma ligação directa entre o desenvolvimento de lesões de endometriose e a desregulação, ao nível celular, de pequenos ARN não-codificantes chamados microARN”, explica a Ziwig numa página de perguntas e respostas.
Estes microrganismos “estão envolvidos na fisiopatia de muitas doenças e na endometriose” e “são encontrados em quantidades variáveis na maioria dos fluidos biológicos”, incluindo a saliva, “onde estão presentes em altas concentrações”.
Apesar dos resultados positivos demonstrados até agora, o teste de saliva ainda está em desenvolvimento e pode ter, associado, um custo “muito elevado”, disse a entidade em declarações à Euronews.
Ao mesmo órgão, a biotecnológica fala num “grande avanço” para pôr fim ao, “muitas vezes longo e doloroso”, processo de diagnóstico da endometriose.