Boicote eleitoral da oposição no Bangladesh faz triplicar a abstenção

O BNP agradeceu aos cidadãos que não votaram no sufrágio “unilateral” deste domingo. O partido no poder celebrou “a vitória da democracia”. Seis em cada dez eleitores não foi às urnas.

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Uma assembleia eleitoral com pouca afluência este domingo MONIRUL ALAM/EPA

Medido pela taxa de participação nas eleições de 2018, o sufrágio deste domingo no Bangladesh registou uma quebra para metade na ida às urnas, a confirmar-se os cerca de 40% de participação anunciados pela Comissão Eleitoral como primeira estimativa. Se olharmos para as de 2014, quando o Partido Nacionalista do Bangladesh (BNP) decidiu, como agora, apelar ao boicote eleitoral para protestar contra a manipulação feita pela Liga Awami, no poder, então a percentagem fica ela por ela.

Quer isto dizer que o BNP (à frente de mais 62 formações políticas opositoras de menor dimensão) conseguiu, como em 2014, fazer desmobilizar uma parte substancial do eleitorado e demovê-lo de ir às urnas. A abstenção triplicou em relação ao sufrágio de há cinco anos e seis em cada dez bangladeshianos não se aproximou das assembleias de voto.

O BNP congratulou-se pelo efeito do seu boicote, da greve geral de 48 horas que convocou para este fim-de-semana e dos protestos nas ruas contra a manipulação democrática feita pela primeira-ministra Sheikh Hasina e o seu partido.

“Um aplauso ao povo do Bangladesh, em nome deste partido e de 62 outros que boicotaram esta farsa eleitoral, porque jamais puseram em dúvida nem questionaram a democracia, tal como hoje o não fizeram”, disse Abdul Moyeen Khan, um dos líderes do BNP e o seu porta-voz, citado pelo jornal Daily Star.

“As assembleias eleitorais vazias que visitámos demonstram realmente a farsa que foram as décimas segundas eleições legislativas deste país”, acrescentou em conferência de imprensa. Para Moyeen Khan trata-se do “último episódio de um drama dirigido pelo Governo, como vínhamos avisando desde há um ano”.

A leitura do partido no poder, como não podia deixar de ser, é substancialmente diferente, encarando a participação, mesmo baixa, como uma “vitória da democracia” porque houve eleitores que “boicotaram o boicote” e foram às urnas votar.

“O BNP não participou nas eleições, mas queria perturbá-las com atentados terroristas e incendiários”, disse o secretário-geral da Liga Awami, Obaidul Quader. “Felizmente, o povo rejeitou o BNP nas urnas através de um apoio massivo à Liga Awami e, por conseguinte, à primeira-ministra.”

Ao divulgar os números da participação, o presidente da Comissão Eleitoral, Kazi Habibul Awal, reconheceu que era algo que já estavam à espera, “porque o partido da oposição levou a cabo uma campanha negativa contra as eleições”, mas assegurou que o organismo eleitoral agiu sempre “de maneira imparcial” e trabalhou de perto “com as agências de segurança para garantir uma situação pacífica”.

O porta-voz do BNP, por seu lado, não confia na imparcialidade da comissão eleitoral, nem das autoridades em geral e fala numa percentagem de participação “inflacionada”, tal “como fizeram nas últimas duas eleições”.

“O povo e o mundo inteiro viram como os eleitores recusaram as eleições”, disse Abdul Moyeen Khan. “Na verdade, acho que muitos eleitores da Liga Awami se abstiveram. Por que haveriam de votar sabendo que o triunfo dos seus candidatos estava assegurado?”

A contestada primeira-ministra, Sheikh Hasina, que a oposição acusa de deriva autoritária, votou logo a seguir à abertura das urnas no domingo com a filha e mais familiares.

“Estou a dar o meu melhor para assegurar que a democracia se mantenha neste país”, garantiu aos jornalistas, citada pela Reuters. “O Bangladesh é um país soberano e o povo é o meu poder.” Com a vitória antecipada nas eleições deste domingo, Sheikh Hasina vai cumprir o quarto mandato, tornando-se na chefe de Governo que há mais tempo está no poder desde que o Paquistão Oriental se tornou independente com o nome de Bangladesh, em 1971.

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