No Dia de Ano Novo, Joe Hollins celebra a vida do seu amigo mais antigo, a tartaruga Jonathan, o animal terrestre mais velho ainda vivo. Jonathan tem agora 191 anos – mais coisa menos coisa. “Na verdade, ele pode ser mais velho”, diz Hollins, 66 anos, explicando que a idade de Jonathan é uma estimativa conservadora.
Hollins é veterinário e cuida da tartaruga sénior e de três outras tartarugas terrestres da ilha de Santa Helena desde 2009. No ano passado, o governador de Santa Helena, Nigel Phillips, deu a Jonathan a data de nascimento de 4 de Dezembro de 1832, mas Hollins continua a celebrar o aniversário do animal no Ano Novo.
“Não é o aniversário dele, mas serve para celebrar mais um ano de vida, independentemente de quão longa vier a ser”, disse Hollins.
No seu grande dia, Hollins leva Jonathan a passear devagar (muito devagar) para conseguir encontrar trevos frescos e depois gozar de uma sesta à tarde. A lentidão é um reflexo da espécie e não da vitalidade. Mesmo a entrar no seu 192.º ano, Jonathan ainda mostra entusiasmo pela vida. Formou uma relação com outra tartaruga chamada Fred (que, na altura, achava-se ser Frederica), há mais de 25 anos. Agora, às vezes tenta acasalar com ele e com a tartaruga Emma, descreve Hollins.
“Como veterinário, consigo dizer que somos só nós, os humanos, que nos prendemos a essas distinções de género”, afirma. “Os animais não são tão esquisitos.” A tartaruga-gigante-das-seychelles já ultrapassou a esperança média de vida de 150 anos para uma tartaruga terrestre, mas Hollins espera que ele continue a cumprimentar os visitantes até ao seu terceiro século de vida, na residência do governador de Santa Helena, um território britânico localizado a cerca de 1930 quilómetros da costa de África.
Com as excepção dos tubarões da Gronelândia, que se estima que consigam viver até aos 250 anos, “surpreende-me pensar que não há mais criaturas vivas na face deste planeta que tenham existido antes dele”, disse o veterinário.
No início deste ano, escreveu um livro sobre as suas aventuras como cuidador destas espécies – Vet at the End of the Earth (algo como “veterinário no fim do mundo”, em português) – publicado pela Duckworth Books, no Reino Unido. Hollins disse que há planos para o publicar nos EUA no fim de 2024.
A primeira parte do livro foca-se nas complexidades de cuidar de Jonathan. Quando Hollins chegou à ilha, há mais de 14 anos, disse que Jonathan estava com uma saúde fraca, tinha cataratas, um bico quebradiço e pele fina.
O veterinário começou a alimentar Jonathan com fruta fresca e vegetais para suplementar as calorias que recebia da erva e do feno, e o bico da tartaruga voltou a crescer e a sua saúde melhorou. Sempre foi apaixonado pelos répteis com carapaça, desde que começou a cuidar das espécies mais pequenas quando era uma criança, no Reino Unido. “Adoro estes animais extraordinários”, disse sobre Jonathan. “É um dos maiores privilégios cuidar dele.”
Jonathan é um quelónio de 180 quilos, cego e que também já não tem olfacto, mas que, tirando isso, é saudável e com uma excelente audição, o que lhe permite orientar-se pelo som.
Uma foto, tirada entre 1882 e 1886, mostra-o a pastar no terreno da mansão do governador e uma carta menciona que, quando chegou a Santa Helena, em 1882, vindo das ilhas Seychelles, no Oceano Índico, já estava “totalmente crescido”. Na cronologia das tartarugas, isso quer dizer que ele tinha pelo menos 50 anos, afirma Hollins, que nota também que Jonathan é o residente mais famoso de Santa Helena desde que Napoleão se exilou na ilha, em 1815, depois de perder a Batalha de Waterloo.
Jonathan tornou-se numa sensação nas redes sociais, e apareceu no Washington Post e noutras publicações ao longo dos anos.
Cerca de 1500 turistas visitam a ilha todos os anos para terem a oportunidade de ver Jonathan e as outras tartarugas: Fred, 52 anos, Emma e David, 55 anos cada. Hollins afirma que os visitantes normalmente levam algumas moedas locais de volta para casa, uma vez que uma das moedas em circulação tem a cara de Jonathan. “Os turistas ficam obcecados com Jono”, afirma, usando a alcunha que ele e dois outros tratadores têm para a tartaruga.
“Por esta razão, tivemos de introduzir o corredor das tartarugas – um caminho para que possam vê-las – porque os grupos de turistas muitas vezes juntavam-se para ter uma foto ou uma selfie com ele e alguns tentaram mesmo montá-lo”, lembra. O veterinário afirma que os visitantes normalmente ficam em êxtase quando percebem que Jonathan já devia ter uns 50 anos quando a lâmpada incandescente foi inventada e que já viu 31 governadores entrar e sair da mansão ao longo da sua vida.
“Ele recebe dignitários de forma regular e gosta da atenção, posa para as fotografias de forma magnífica”, descreve. “Adora a conversa e a interacção.”
Jonathan também gosta dos sons que saem do campo de ténis, acrescentou o tratador, notando que a tartaruga se senta “do lado de fora do campo como um espectador fossilizado”. “O clack-clack das bolas de ténis, os desafios, gritos e risos atraem-no”, afirma. “Há registos de que, em 1969, ele costumava ser reguila, interrompendo jogos de croquet ao sentar-se nas bolas e virar bancos no campo de ténis.”
A tartaruga também é atraída pelas vozes dos tratadores e sabe quando é altura de comer. “Reconhece a minha voz quando me aproximo e o chamo de forma suave”, afirma. “Ele literalmente dá uma sacudidela e começa a morder o ar.” Hollins diz que usa luvas grossas para dar de comer à boca das tartarugas – bananas, pepinos e cenouras – e o doce preferido são peras e os miolos da alface.
“Adora comer – muitas vezes abstenho-me de o alimentar muito porque, se tivermos um balde generoso de comida, tenho medo que vá rebentar”, afirmou. “Nunca o vi a apertar o botão para parar.”
Sorri quando pensa na possibilidade de a tartaruga viver muito mais do que ele. “Aconteça o que acontecer, acho que podemos ficar satisfeitos porque fizemos o melhor por ele”, disse. “Mas espero ainda conseguir ver o seu 200.º aniversário.”
Exclusivo PÚBLICO/ The Washington Post