A mudança de fim de ano
Fingir que os problemas desapareceram e criar expectativas de que tudo vai correr bem por si só é um convite ao fracasso.
Chegamos ao fim de mais um ano e o balanço deste período é sempre mais positivo para alguns do que para outros. Muitas pessoas concluem o ano sentindo-se tristes, desiludidas, com menos rendimentos e mais vulneráveis psicologicamente; outras mostram-se mais criativas, satisfeitas e produtivas, tendo descoberto em si ou nos que as rodeiam talentos e capacidades até então desconhecidos.
O fim do ano motiva, em algumas pessoas, uma avaliação individual, que acontece sob a forma de diálogo interno sobre o que fizemos no ano anterior e, sobretudo, sobre o que gostaríamos que acontecesse no ano que se avizinha.
É tempo de aproveitar as aprendizagens com coisas que correram menos bem como fontes de crescimento e olhar para o futuro como uma oportunidade de fazer diferente para nós e para os outros. Podemos, por exemplo, criar novos hábitos em casa, com a nossa família, e no trabalho, que podem representar uma mais valia na nossa vida; recorrer ao autocontrolo para manter os hábitos que realmente importam; usar a tecnologia para o nosso bem e para reforçar relações; dar mais valor à nossa saúde mental, normalizando as vulnerabilidades inerentes a sermos seres humanos, sobretudo, em situações de stress ou que impõem incerteza. Além disso, o autocuidado pode ser uma forma de encontrar algum equilíbrio emocional.
Mas há algo fundamental que impõe a verdadeira mudança: fingir que os problemas desapareceram e criar expectativas de que tudo vai correr bem por si só é um convite ao fracasso. O envolvimento na mudança com ações concretas é que a faz acontecer. Nada de pensamentos mágicos do tipo “Ano novo, vida nova!” sem efetivar aquilo que pretende e como vai fazer para conseguir.
Uma mudança comportamental duradoura é alcançável, desde que as pessoas tenham vontade de tentar. Conte apenas consigo e não com os outros, porque o desejo de mudança é seu e o compromisso que coloca na sua realização torna-se essencial para o desenrolar do processo.
Em jeito de convite à reflexão individual, deixo algumas ideias que podem servir como mote para a mudança desejada.
Escreva os seus objetivos e como os poderá concretizar, de maneira a clarificar as suas intenções e verificar se são realistas. Ouça as pessoas em quem confia e leia sobre como pode efetivar aquilo a que se propõe, assim poderá decidir sobre o que faz mais sentido.
Escute o seu corpo, percebendo qualquer mudança. Esta informação sobre o seu estado emocional pode ajudá-lo a reconhecer necessidades.
Procure atender às suas necessidades individuais e sobre como agir em prol da sua saúde mental, preparando-se para o novo que se aproxima.
Aceite o que sente sem recorrer ao chavão do “pensamento positivo” que pode ter um efeito de falso alívio, dado que reduz a necessária tolerância ao desconforto, mas as emoções ficam lá na mesma.
Encare as situações adversas aumentando a sua capacidade de desenvolver a resiliência.
Dedique algum tempo para estar realmente com quem ama.
Reflita por breves instantes sobre o que pode fazer para lidar com as emoções fortes e crie um plano rápido de ação.
Não existe uma maneira certa para lidar com o stress, cada um deve encontrar o que melhor resulta para si. Seja criativo, identifique e experimente novas formas para abrandar ou algo que funcionou consigo no passado.
Pratique o autocuidado procurando encontrar momentos só para si.
Pense por um minuto no que lhe traz alegria e bem-estar. Consegue transformar a sua resposta numa atividade exequível?
Caso não consiga ultrapassar as dificuldades emocionais que o impedem de ter a vida que gostaria, esteja aberto a procurar ajuda de um profissional de saúde mental.
Finalmente, retire alguns minutos consigo próprio para fazer um breve balanço de tudo aquilo que alcançou até hoje. Quais foram as suas conquistas de vida? Seja grato e reflita sobre qual foi o seu compromisso para o alcance das mesmas.
Bom ano novo!
A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990