As acções da Nike Inc. caíram na passada sexta-feira, arrastando os retalhistas de roupa desportiva e as marcas rivais. A descida a pique surge na sequência de o fabricante de sapatilhas ter dito que vai cortar empregos e simplificar as operações em resposta às vendas mais fracas.
A Nike anunciou que pretende poupar até dois mil milhões de dólares (cerca 1,8 mil milhões de euros) em custos, despedindo trabalhadores e simplificando a linha de produtos da marca, por conta de uma previsão de vendas mais fraca, sobretudo na China.
As acções da Nike caíram até 12% a partir das 9h36, o máximo desde Setembro de 2022, nas negociações da bolsa de Nova Iorque. A Dick's Sporting Goods e a Lululemon Athleta também caíram. Já na bolsa de Frankfurt, a Adidas AG caiu até 6,6%, com a Puma SE a descer 6,9%, já que os investidores temiam uma desaceleração semelhante nas vendas em todo o sector.
O director financeiro da Nike, Matt Friend, salientou na teleconferência da empresa que as novas perspectivas reflectem “indicações de um comportamento mais cauteloso dos consumidores em todo o mundo”, em especial na China, na Europa, no Médio Oriente e até em África.
O gigante norte-americano do vestuário desportivo prevê que as receitas para o ano inteiro aumentem cerca de 1%, após uma descida no trimestre actual e um aumento modesto no trimestre antes. A empresa avançou que também está a registar níveis mais baixos de crescimento do comércio electrónico, que, nos últimos anos, tem sido fundamental no sector do retalho.
“Adoptámos uma abordagem mais prudente no nosso planeamento para o resto do ano”, notou o director executivo John Donahoe, na mesma conferência de imprensa.
Na declaração, a Nike disse que espera incorrer em encargos de reestruturação de 400 milhões a 450 milhões de dólares no trimestre actual, “principalmente associados a custos de indemnização de funcionários”.
A receita neste trimestre foi de 13,4 mil milhões de dólares, aproximadamente em linha com a estimativa média dos analistas, compilada pela Bloomberg. As vendas na China ficaram abaixo do esperado, enquanto o lucro por acção ultrapassou a estimativa de Wall Street.
O desempenho regional contrasta ligeiramente com o dos rivais da Nike. Em Outubro, a Puma registou uma forte procura na Europa e uma recuperação na China, que compensaram um desempenho mais fraco nos EUA no terceiro trimestre. Por sua vez, a Adidas, em Novembro, confirmou algumas dificuldades nos EUA, embora tenha obtido um impulso com as vendas de produtos que sobraram da parceria Yeezy com o rapper Ye (antes Kanye West).
A Nike está à procura de gerar poupanças, sobretudo aumentando a automatização e impulsionando a tecnologia. “Sabemos que, num ambiente como este, quando o consumidor está sob pressão e a actividade promocional é maior, é a novidade e a inovação que levam o consumidor a agir”, declarou Friend.
As preocupações dos investidores em relação à China são um ponto fulcral para a empresa de vestuário desportivo, devido aos receios de um recuo nos gastos dos consumidores nesse país. Em Setembro, Donahoe afirmou que a Nike tinha “grande confiança no futuro e no consumidor chinês do nosso segmento”.
Na semana passada, reiteraram esta confiança: “Sentimo-nos muito bem em relação à nossa posição na China e à nossa capacidade de competir, e isso não mudou desde há 90 dias.”
Mas nem tudo é mau. A Nike registou uma melhoria: A margem bruta no trimestre foi de 44,6%, superior às estimativas dos analistas. A administração passou grande parte do ano a limpar o inventário, depois de um excesso de mercadoria ter impedido que novos produtos chegassem às prateleiras das lojas. O stock em armazém diminui 14%.
Exclusivo PÚBLICO/Bloomberg
Tradução: Inês Duarte de Freitas