Bem-vindo à época natalícia, a altura em que as famílias se reúnem. Visitares a família do teu companheiro e experienciares novas relações e costumes é agradável — mas também pode ser assustador. As festas são um estímulo para trazer à tona histórias (e conflitos), e realçar as excentricidades da vida privada dos outros. Nas nossas próprias casas pode ser bastante difícil, mas os desafios são novos quando somos atirados para o meio da família de outra pessoa.
Podemos encarar as famílias como um microcosmo da sociedade e da cultura que têm uma ordem de interacção específica: um conjunto de comportamentos peculiares, hábitos e formas de agir em situações concretas. Estas diferenças podem criar desafios, especialmente quando somos obrigados a estar juntos durante horas, a conversar quando o vinho já está há demasiado tempo no copo, a passar o sal a alguém durante o jantar e a decidir quem fica com o último pedaço de bolo.
Por outro lado, há diferenças que podem ser incómodas. Por exemplo, quando entramos na casa de alguém, nas relações pessoais e privadas de longa data dessa pessoa, estamos a entrar numa série de expectativas que podemos não compreender. Mas vais ter de lidar com elas nesse momento.
Por isso, aqui ficam algumas dicas para lidares com o facto de seres um convidado no Natal de outra pessoa.
É comunicação e não psicologia
É comum pensarmos nas famílias de forma psicológica. Reagem de forma diferente a conflitos e têm relações e convicções políticas opostas. Mas quando nos encontramos uns com os outros cara a cara, não conhecemos necessariamente (nem temos tempo para reflectir sobre) histórias de padrões de pensamento, tendências emocionais ou valores.
Na azáfama da interacção social, temos de lidar com o que nos é dado na hora — sem pausas, sem retrocessos e sem consultar um chatbot de inteligência artificial (IA) para saber o que responder. A compreensão psicológica, se a conseguirmos detectar, pode ser útil como informação de base, mas não nos ajuda necessariamente a reagir. Na verdade, pode até desviar-nos do caminho certo e encorajar-nos a pensar nas pessoas com base no que supões sobre elas, em vez de levares a sério as atitudes que têm.
Por isso, o primeiro conselho é resistires ao impulso de psicologizares ou assumires que sabes o que os outros estão a pensar. Podes até ouvir os avisos do teu companheiro sobre certas pessoas, mas fica de pé atrás. Concentra-te antes no que as pessoas com quem estiveres fazem e dizem.
Como lidar com os mais pequenos (crianças e animais)
As famílias podem ter atitudes muito diferentes para os membros mais novos e/ou em relação aos animais de companhia. O problema é que as normas são isso mesmo, são normais para as pessoas que as seguem e tornam-se parte de uma identidade familiar.
A tua rejeição a certos comportamentos (ou a rejeição dos mais novos aos teus) pode parecer uma recusa por parte da pessoa e causar uma atitude defensiva. Por isso, é melhor explicares os motivos da tua resistência e certificares-te que não soam a críticas.
Por exemplo: "Adoro o teu cão, mas o tecido da minha camisola é delicado, por isso não o deixes saltar para cima de mim."
Também podes mostrar que és uma pessoa estranha: "Sei que sou o estranho aqui, mas tenho de deixar a minha filha correr em círculos à volta da tua árvore de Natal ou ela vai ter dificuldade em ficar sentada ao jantar."
As gafes
Esconderes-te num buraco não é uma solução prática para dizer acidentalmente algo embaraçoso. Se a questão for mais séria — por exemplo, se perguntares onde está o tio Makram (que morreu no ano passado) — o melhor a fazer é simplesmente pedires desculpa e deixares a conversa seguir em frente. Se interromperes alguma coisa, arriscas-te a piorar a gafe e transformar o erro numa conversa.
Da mesma forma, dizeres algo mais banal pode originar um problema parecido, mas podes fazer disso uma piada. A maioria das pessoas está disposta a rir e a esquecer o assunto (mas prepara-te para seres gozado mais tarde se estiveres num desses tipos de família).
E as críticas
Se calhar vais ter de lidar com algum familiar esteja sempre a criticar pequenas coisas, como a tua roupa ou a quantidade de comida que comes e talvez te faça perguntas um pouco interrogatórias.
No entanto, a não ser que haja muito álcool envolvido, as pessoas raramente criticam directamente a pessoa, o que é difícil de contrariar. Mas o melhor da interacção é o facto de termos sempre outra oportunidade de mudar o rumo da conversa.
Um pivot é um termo para quando respondemos tendo em conta ao que acabou de ser dito (para que não pareça que se estamos a ignorar a pessoa) mas, ao mesmo tempo, levámos a conversa para um novo rumo. Por exemplo, se o avô do teu companheiro perguntar porque é que ainda não pouparam o suficiente para comprarem uma casa, podes dizer algo como "ainda estamos a poupar, na verdade, em vez de irmos a Espanha este Verão, passámos uns bons momentos à beira-mar. Vou mostrar-te algumas fotografias."
Às vezes, as pessoas são difíceis (quer sejam membros da família do teu companheiro ou da tua própria família), mas, felizmente, já escrevi um artigo sobre como lidar com esses casos específicos. Espero que todas estas dicas ajudem a tornar as festividades fora de casa um pouco mais fáceis.
Exclusivo P3/The Conversation
Jessica Robles é professora de Psicologia Social na Universidade de Loughborough, em Inglaterra