Você não é um caixote do lixo
Os dias 26 dezembro e 2 janeiro devem ser dias de regresso à rotina alimentar. Nenhuma pessoa é um “caixote do lixo” para continuar a comer os restos, porque simplesmente “custa deitar fora”.
Não, este não é mais um artigo sobre as melhores escolhas alimentares a ter no Natal e sobre as calorias de cada sobremesa natalícia... é sobre o dia seguinte.
Apesar de cada pessoa ter a sua própria história individual e alimentar no Natal, podemos dizer que, em média, o pós festas é onde se atinge o máximo de peso durante o ano. Isto acontece não porque durante dois dias (24 e 25 dezembro) se consomem muito mais calorias do que o habitual. Pode ter impacto, sim, mas por vezes não muito mais do que noutros fins de semana com mais abusos.
No aumento de massa gorda as calorias valem (praticamente) todas o mesmo. Na representação que têm para nós e nas recordações futuras não é bem assim… Dezembro tem sempre um número extra de jantares de Natal e convívios, mas esse “problema” deve ser relativizado. Se há jantares e convívios, é sinal de que existem amigos, que a família é funcional e que o Natal é feliz e não um “pesadelo” pelo qual se quer passar o mais rápido possível; e é sinal de que existe um ou vários empregos que fazem com que se tenha um número proporcional de jantares e eventos de Natal. O peso simbólico e psicológico de calorias extras a nível social não é de todo igual ao de calorias sozinho em casa dentro de um “buraco” depressivo.
É precisamente por isso que o objetivo deste artigo não é restringir os convívios, mas sim prepará-los de forma mais inteligente e diminuir as sobras e o desperdício alimentar que existe nesta altura. A organização e planeamento de cada ceia de Natal e Passagem de Ano é fundamental para que não impere a lógica de “quanto mais melhor”. Não precisam de existir três bolos-rei, dois queijos da Serra, quantidades avassaladoras de rabanadas e outros doces fritos e juntar a isso uma desnecessária mescla de frutos gordos e frutos secos que só acrescenta mais “gasolina” ao incêndio calórico sempre existente nesta fase.
Os dias 26 dezembro e 2 janeiro devem ser dias de regresso à rotina alimentar. Nenhuma pessoa é um “caixote do lixo” para continuar a comer os restos de sobremesas, porque pura e simplesmente “custa deitar fora” e há que ser totalmente pragmático neste ponto. Dois ou três dias depois os doces natalícios já não têm o mesmo sabor, aspecto e frescura. Continuar a comer torradas de bolo-rei, rabanadas já ensopadas e moles e tostinhas com queijo da Serra, apenas para dar paz à nossa consciência por não deitarmos comida fora, mais do que as calorias, acarreta uma sobrecarga contínua de gordura e açúcar ao nosso sistema digestivo. Se o planeamento falhou e se comprou ou cozinhou a mais, por mais que custe, o destino deve ser mesmo o caixote do lixo.
Este raciocínio aplica-se também a muitas empresas que fazem o trabalho (meritório, diga-se) de oferecer ou vender a custo muito mais baixo as sobras de muitas confeitarias e pastelarias. A não ser em casos de extrema carência onde o total de calorias seja mais importantes do que a composição das mesmas, não faz sentido para ninguém (sobretudo a quem já tem peso a mais e até se sinta mais impactado por estas campanhas) que utilize estas plataformas comer croissants, bolas-de-berlim, éclairs e demais produtos de pastelaria já um pouco “passados” e secos apenas porque estão mais baratos e para não deitar fora.
Por isso, neste Natal coma descansado e com tranquilidade; não diminua o açúcar, ovos e manteiga das receitas de sempre da avó ou da infância em troca das receitas de Natal light, mas faça-o numa quantidade razoável e moderada. Se porventura a organização tiver saído furada, as sobras forem muitas, e por diversas razões estiver com dificuldades em gerir o peso, o seu destino deve ser mesmo o lixo. Peso a mais na consciência não aumenta o risco de diabetes, cancro e doenças cardiovasculares. Peso a mais na balança sim.
Um Feliz Natal a todos os leitores.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico