Os “porquês” de uma vida que urge ser inclusiva

Desde então que a vida nos obriga, diariamente, a enfrentar não só o desconhecido, como também um novo mundo, no qual os “porquês” são inúmeros: o mundo da pessoa com deficiência.

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Megafone P3: Os “porquês” de uma vida que urge ser inclusiva Marcus Aurelius/Pexels
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De repente, tudo muda. É nesse intenso e tão inesperado sopro que surge a questão das questões: Porquê?”. A procura por respostas torna-se incessante e é nesse labirinto sem fim que percebemos que não há caminho mais frágil e imprevisível do que a vida.

Pode parecer o típico clichê, mas, na verdade, não há maior lição do que o momento em que esse súbito “porquê” nos bate à porta e entra sem pedir licença. Foi assim que aconteceu, em Abril, quando um dos meus irmãos teve um acidente e ficou tetraplégico.

Desde então que a vida nos obriga, diariamente, a enfrentar não só o desconhecido, como também um novo mundo, no qual os “porquês” são inúmeros: o mundo da pessoa com deficiência.

As primeiras questões surgem com a burocracia. Quando de direitos se trata, há sempre um ou vários papéis à mistura. Lá no fundo, já todos nós sabemos que em Portugal tudo se rege sob essa máxima, estando a burocracia sempre presente.

No entanto, a par dos infinitos papéis, das minuciosas cruzinhas e das inúmeras assinaturas, estão também os meses – ou até anos – de espera por um ou mais atestados.

Sem esses documentos, determinados direitos fundamentais não poderão ser usufruídos, pelo que questiono: estando a própria pessoa e respectivas famílias assoberbadas por uma nova realidade, por que razão ainda lhes é indirectamente exigido que percam horas na procura por informação, inúmeras chamadas em espera, filas e filas na Segurança Social e vaivéns de papéis?

Embora tenha dito que o começo dos “porquês” se dá com a burocracia, parte de mim sente que esse início é ainda mais impactante quando se sai à rua e se confronta com a acessibilidade que, muitas vezes, não existe.

Arrisco-me a dizer que tal se torna a maior barreira à vivência de uma pessoa com deficiência. Sair de casa e não ter uma rampa para atravessar a passadeira; ir a casa de um amigo e não ter elevador no prédio; ir a um restaurante e não entrar; ir ver uma peça de teatro e não haver lugar — são só alguns exemplos que mostram as mais variadas limitações do mundo em que vivemos que fazem com que a inclusão da pessoa com deficiência seja a excepção e não a regra.

Sei que ninguém pensa nisto quando, de facto, não convivemos diariamente com uma pessoa com deficiência. Não julgo, porque sei que só abrimos os olhos quando nos bate à porta. Ainda assim, é neste ponto que surgem as questões. Porque não se educa para a inclusão da pessoa com deficiência? Porque os líderes não aspiram à construção de uma cidade que visa as necessidades de todos?

Porque a acessibilidade se torna um favor e não um direito, tal como o é? Ainda assim, o “porquê” que mais me entristece, enquanto pessoa e cidadã do mundo, é a exclusão da pessoa com deficiência da sociedade. Para além de tudo o que mencionei anteriormente, que vai precisamente ao encontro deste ponto, agora refiro-me ao que deixa uma marca diferente.

Os olhares de estranheza, o sentimento de pena, a sensação de que são menos do que os outros, o tratamento inferiorizado, entre muitas outras vivências, são impressões causadas por todos nós, sociedade que vive ao seu redor. Mas por que razão isto acontece? São muitos os “porquês”; poucas as respostas.

Todos versam sobre a inclusão da pessoa com deficiência — uma missão na qual todos nós (cidadãos e líderes) temos um papel crucial na construção de um mundo e de uma sociedade onde todos têm lugar.

Ainda assim, urge este ser um lugar que reconhece a devida importância dos seus direitos, desde a acessibilidade à igualdade de oportunidades, vivências ou circunstâncias, seja no trabalho, na escola, no ginásio ou na discoteca. Porquê? Porque as pessoas com deficiência são pessoas; não a sua deficiência.

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