No País dos arquitectos: Casa de São Lourenço - Burel Panorama Hotel
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No 72.º episódio do podcast “No País dos Arquitectos”, Sara Nunes, da produtora de filmes de arquitectura Building Pictures, conversa com os arquitectos Patrícia Marques e Paulo Costa, do atelier Site Specific Arquitectura, sobre a Casa de São Lourenço - Burel Panorama Hotel.
O projecto na Casa de São Lourenço é o segundo hotel do grupo Burel Mountain Originals e é indissociável da história da rede de Pousadas de Portugal. Em 1948, foi ali criada uma antiga pousada: a São Lourenço, uma das primeiras a ser construída no país. Depois da criação da Casa das Penhas Douradas, a primeira unidade hoteleira do grupo, os donos da Burel Factory foram ter com os arquitectos da Site Specific e os designers do gabinete P-06 para transformar a pousada num hotel de cinco estrelas.
A arquitecta Patrícia Marques recorda o cenário com que se depararam no início do projecto: “A primeira vez que fomos ao sítio, aquilo que existia era (...) um [edifício], à beira da estrada, que tinha levado imensas intervenções sem qualificação. Não era particularmente interessante, mas havia uma equipa em quem nós confiávamos. [Sabíamos] que essa equipa podia levar o projecto avante, mas não era [algo do género]: «Que [lugar] incrível com neve. Que romântico!» (...) A imagem que tivemos, naquele primeiro dia que chegámos, foi: «Fogo! É isto?» (...) Estavam lá os engenheiros, a equipa completa e toda a gente dizia: «Vocês têm a certeza de que isto é para transformar num hotel de cinco estrelas?» E nós dissemos: «Sim, vamos conseguir!»
A relação de confiança e de abertura que existia com os proprietários da Burel permitiu que o projecto final correspondesse às aspirações dos arquitectos: “Havia um grupo de pessoas que sabia exactamente o que queria e que não nos dizia: «Não vamos demolir isso. Já está aí, por isso não vamos demolir.» Não. [Nos momentos em] que dissemos: «Vamos demolir porque isto não pertence ao edifício. É algo que não faz sentido nenhum e nós podemos melhorar isto imenso.» [Eles compreenderam.] A equipa estava [envolvida]. E quando eu digo equipa falo do dono de obra. Foi claramente um trabalho conjunto”, explica a arquitecta.
Mais do que um lugar para descansar, a equipa pretendia dar continuidade a um projecto de valorização do património local. Da antiga pousada ficou a estrutura do edifício principal, a preservação do projecto original de Rogério de Azevedo e o mobiliário, desenhado por Maria Keil, cujos desenhos da estrela e da loba foram replicados e aproveitados pelo atelier P-06: “Nós estávamos a trabalhar enquanto arquitectos, a P-06 estava a trabalhar connosco os interiores e, de repente, o burel apresentava-se como esse material contemporâneo que era produzido localmente”, conta o arquitecto Paulo Costa. A ideia era aproveitar as características do tecido ancestral feito com lã das ovelhas da Serra da Estrela para usá-lo como “produto contemporâneo”: “É completamente natural, quase indestrutível. (...) É resistente ao fogo, algo que do ponto de vista da arquitectura é uma grande vantagem e tem uma capacidade acústica imensa”, observa Patrícia Marques. Reconhecido como material de construção, o burel está presente um pouco por toda a Casa de São Lourenço: nas paredes revestidas com bordados, nos painéis, nas mantas e, inclusive, nas peças que se encontram nas portas dos quartos a sinalizar “ocupado” ou “livre”.
Actualmente, a Casa de São Lourenço apresenta um estilo de vida ligado à montanha, à sua cultura e ao saber herdado por gerações. Os arquitectos revelam como era importante para os donos do hotel (Isabel Costa e João Tomás) a dinamização da região: “Eles têm uma consciência muito grande nesta questão do património e [pretendiam] fazer renascer o património de forma contemporânea. (...) Quem lá vai fica a conhecer, de facto, um bocadinho mais da Serra da Estrela porque há essa vontade também da parte deles.”
Uma das mais importantes intervenções foi o volume de vidro que, ao longo de todo o edifício, permite estabelecer uma relação estreita com a paisagem, sobre o Vale Glaciar do Zêzere e a Vila de Manteigas. Durante a entrevista, o arquitecto Paulo Costa fala sobre essa relação: “A experiência, por exemplo, do [Burel Panorama] Hotel foi muito intensa a vários níveis. Durante dois anos, íamos à obra semanalmente e esse lado da natureza da Serra da Estrela (...) é algo que muda de semana para semana. É mágico. (...). E aquilo que [este projecto] nos permitiu descobrir foi uma outra serra (aos lisboetas, pelo menos) que não nos era dada. Não era a serra que nós conhecíamos.” A arquitecta Patrícia Marques partilha da mesma opinião e garante que a Serra da Estrela é muito mais do que neve: “Quando não há neve, a pessoa está disponível para ver outras coisas e para ir a outros sítios que são – quer dizer, isto é a minha opinião – muito mais bonitos e igualmente únicos no país. A [neve] não é a única coisa de especial que aquele território tem. É único em Portugal, mas [a experiência] está longe de se esgotar na neve.”
Para saber mais sobre o projecto da Casa de São Lourenço - Burel Panorama Hotel e a sua ligação com a paisagem e a identidade local, ouça a entrevista na íntegra.