ASL Tomé: A festa do vinho acontece nesta adega de Pinhal Novo
De tudo o que se espera de uma experiência de enoturismo, a ASL Tomé cumpre exemplarmente. E vai muito além da oferta clássica, com propostas fora do habitual.
Se por um lado a localização da quinta, inserida na malha urbana do Pinhal Novo, possa roubar parte da vertente rústica que normalmente se associa à visita a um produtor, por outro, a centralidade (e a própria organização da quinta) abrem espaço a que se possa apresentar o vinho ao público “de modo menos formal e mais democrático, através de eventos abertos a todos”. Mas, na prática, o que significa isso?
Carlos Branco, terceira geração à frente da ASL Tomé, é o homem dos sete ofícios e que aqui cuida não só da matéria-prima, desde a transformação das uvas produzidas em 40 hectares de vinha própria, até ao controlo de qualidade do produto já engarrafado. Diz-se enólogo “formado pela experiência de décadas a acompanhar o avô e o pai no ofício”, viticultor autodidacta, guia turístico, DJ e programador da antiga Casa dos Lagares, hoje convertida em salão polivalente e que, em dias de efeméride, chega a reunir 500 pessoas em festas temáticas para dançar e provar vinho. Há 10 anos que assim é.
“As pessoas vêm, divertem-se, relaxam e ficam a conhecer o que fazemos aqui na quinta”, conta Carlos, lembrando que “o facto de existir um wine bar in situ é uma forma de aproximar o produtor do consumidor final e de criar experiências de prova muito mais íntimas e memoráveis”. Da carta constam os clássicos da casa, dos tinto, branco e rosé da gama de entrada aos blends e monocastas “mais trabalhados”, passando invariavelmente pelos licorosos, como é o caso do icónico Caramelo, um abafadinho que não nega o grau de parentesco com o Moscatel, mas que se distingue pela doçura mais equilibrada e aroma fumado.
Uma curiosidade que contraria a lógica de fama das castas tipicamente locais é o facto de o tinto de syrah ser a estrela de vendas. O motivo, suspeita Carlos, pode ter que ver com a curiosidade do público em expandir o conhecimento acerca do vinho regional. E facto é que esta casta de origem francesa encontrou na Península de Setúbal o clima perfeito para prosperar e se afirmar no mercado. “Termos o mar aqui tão perto faz toda a diferença para a evolução e a qualidade do vinho que se faz com esta uva”, remata.
Apesar da programação constante, nem só de festa vive a ASL Tomé. Se a Casa dos Lagares – datada do século XIX e ainda a mostrar as paredes de pedra, o tecto em madeira, um antigo alambique de aguardente e uma prensa de uvas manual – serve de núcleo central à vertente enoturística, também a actual adega, modernizada à vontade dos tempos, mantém algumas barricas de madeira lado a lado com as cubas de inox, “para inglês ver”.
São, de resto, os estrangeiros quem mais se impressiona com a maquinaria antiga e o chão de cimento onde, em tempos há muito idos, se fazia o fogo que serviria para moldar as aduelas das pipas, um ofício praticamente extinto, não fosse existir ainda Florindo Domingos Morais, figura emblemática da casa, já nos seus 90 anos, o último tanoeiro em funções, segundo se sabe. Na sua oficina, nas traseiras do salão, embora a procura já seja escassa, porque “hoje compra-se novo em vez de consertar o que é velho”, continua a trabalhar para meia dúzia de clientes, sobretudo restaurantes, que ainda “mantêm a carolice de guardar o vinho em barris”, diz.
Para quem chega ao complexo ASL Tomé, sugere-se a passagem pela Wine Shop, não só para abastecer a garrafeira de casa, mas também para conhecer as actividades propostas pela quinta: além das provas acompanhadas no local, com direito a petisco com queijos e enchidos regionais, há ainda piqueniques personalizados na vinha e passeios de barco no Sado. Os preços são combinados ao balcão e dependem da variedade de vinhos à prova e do número de participantes.
ASL Tomé
Quinta da Cascalheira
Rua 25 de Abril, Pinhal Novo (Palmela)
Tel.: 212 360 020
Web: asltome.pt
Das 09h às 18h; sábado, até às 13h. Encerra ao domingo
Prova de vinhos a partir de 5 euros
Este artigo foi publicado no n.º 6 da revista Solo.