Portugal, vamos ter de nos reinventar

Um Portugal mais pobre (de)mente, irresponsável. Impostos e menos dinheiro na carteira dos portugueses. E são estes que terão de se reinventar.

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Portugal, o pais à beira mar, do bacalhau, do chouriço, da Amália, do fado, da saudade, dos azulejos pintados à mão, do Ronaldo, do pastel de nata e da sardinha.

No outro dia, em Lisboa, à procura de um espaço onde decorreria um evento, dei por mim a entrar numa casa de estrangeiros. Colchões no chão, um labirinto de portas. Aqui se aplica o termo sardinha em lata. O arrendamento a preços nunca vistos deixa qualquer um sem soluções à vista.

Viver numa autocaravana, voltar para a casa dos pais, optar por espaços mais pequenos, ir para os subúrbios da cidade, poderão ser opções. Talvez seja a época de construção na Lua, de inventar casinhas nas árvores, redescobrir outros países onde o custo de vida é menor. 2022 recomenda-nos Vietname, Indonésia, Equador, Tailândia, Bolívia, Cambodja, Bulgária, Peru, Croácia: mudar de vida e aprender nova cultura.

Uma prática que vai crescendo é passar a terceira idade com os amigos, sim, morar na mesma casa, entreajudar-se, recordar tempos que já se foram e fazer da vida nova etapa prazerosa.

A subida das taxas de juro, a especulação dos preços dos bens essenciais e a novela governativa. Um Portugal mais pobre (de)mente, irresponsável. Impostos e menos dinheiro na carteira dos portugueses. E são estes que terão de se reinventar.

Criar camas de fortaleza para os filhos, pintar montanhas na parede para os consciencializar de que precisam de as ultrapassar, fazer níveis para rentabilizar o espaço, pintá-las de branco para trazer a luz, dando a sensação de ser maior.

Melhorar hábitos de consumo pode ajudar-nos. Arejar a roupa, usar mais vezes a panela de pressão, usar modos eco dos electrodomésticos, isolar fugas de ar, aproveitar a água da chuva para lavar o carro, para o ferro de engomar ou regar plantas, planear refeições e deixar o sol de Portugal entrar em casa.

Teremos de melhorar a acuidade visual, ter bom olho, reparar nos detalhes, pois farão a diferença. Treinar os infiltrados escondidos, uma actividade divertida. Avaliar sempre cada preço e renegociar dívidas.

Ensinar os nossos filhos como o pai Eric Taylor, a valorizar e não escolher pela aparência. E eles, os nossos filhos também precisam de mundo. Deveríamos decorar os objectivos de desenvolvimento sustentável na parede da sala para cada um de nós saber que terá de fazer a sua parte.

Como nos explica um dos mais atentos observadores, António Barreto, no seu livro Tempo de Incerteza: "Sobretudo, esta última década e meia gerou mudanças profundas num país historicamente proteccionista e enclausurado: a economia portuguesa é hoje uma economia aberta, plenamente integrada no espaço europeu, ainda que terciarizada e sem indústria de ponta; o produto cresceu; a educação democratizou-se; a despesa social aumentou; a justiça e a saúde tornaram-se serviços amplamente procurados, embora ineficientes."

Beber chá de hortelã e, sobretudo, massajar as orelhas. Experimente quem nunca experimentou. Prática que estimula terminações nervosas, facilitando a libertação de endorfinas. Vamos de certo sentir-nos melhor e aliviar as dores.

David Lewis, neuropsicólogo britânico, diz que bastam seis minutos a ler para reduzir o stress. A leitura ajuda-nos a entender o mundo e o nosso presente, a encontrar soluções e a ter ideias originais.

Portugal vai escolher em breve, deixemos que a soberania popular nos ajude a arrumar a casa, a saber como pagar as contas e ainda sobrar um pouco para tomar um café com os amigos, acompanhado de pastel de nata, obviamente.

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