Iscte abre um novo centro de investigação
O novo centro de investigação do Iscte, que é inaugurado na segunda-feira, representou um investimento total de 19 milhões de euros. Anuncia-se a presença do Governo em peso na inauguração.
Um novo centro de investigação do Instituto Universitário de Lisboa (Iscte) abre as portas na próxima segunda-feira de manhã (20 de Novembro), com o objectivo de fortalecer a união entre as ciências sociais e humanas com as ciências exactas e as engenharias. Na cerimónia de abertura, serão apresentados vários projectos, incluindo um que procura combater o discurso de ódio online, combinando para tal as ciências sociais e as ciências computacionais.
O novo centro Iscte – Conhecimento e Inovação começou a ser pensado em 2018, quando o Instituto Universitário de Lisboa adquiriu o conjunto de prédios que serviam de sede ao IMT (Instituto da Mobilidade e dos Transportes), localizados na Avenida das Forças Armadas, em Lisboa.
Inicialmente, levantou-se a hipótese de se construir uma escola de turismo e um hotel, mas Maria de Lurdes Rodrigues, a actual reitora do Iscte, propôs a criação de um centro de investigação que servisse de “casa” para o conhecimento do instituto universitário. Para além disso, proporcionaria uma expansão do campus.
“A Avenida das Forças Armadas era estratégica na expansão do Iscte, pois permitia [ao instituto], por um lado, deixar de estar cercado pelo campus da Universidade de Lisboa”, conta ao PÚBLICO Jorge Costa, vice-reitor do Iscte. “O nosso centro será a casa de toda a nossa investigação. Queremos ter a capacidade de oferecer soluções inovadoras para desafios contemporâneos”, acrescenta o vice-reitor, realçando que o novo centro também oferecerá cursos de doutoramento e pós-graduações nas várias áreas do conhecimento.
Neste sentido, iniciaram-se em 2021 as obras de reabilitação dos antigos edifícios, com um investimento total de 19 milhões de euros, dos quais cerca de sete milhões são fundos europeus. “Este investimento não é só o edifício. Também há o equipamento, como o investimento num centro de dados [uma das áreas de investigação do centro] e os arranjos”, esclarece Jorge Costa.
Agora concluído, o Iscte – Conhecimento e Inovação vai ser a nova casa de oito unidades de investigação, que abrangem mais de mil investigadores, num “cruzamento entre estas diferentes áreas”. “O Iscte – Conhecimento e Inovação tem como objectivo fortalecer a interacção da academia com diferentes partes interessadas, incluindo empresas, serviços públicos e a comunidade em geral”, realça Jorge Costa, citado em comunicado. “Pretendemos promover a inovação, a investigação interdisciplinar e a colaboração entre a comunidade científica e a sociedade.”
Do discurso de ódio até à transparência das autarquias
Para a cerimónia de abertura, o Iscte anuncia a presença do Governo em peso – desde o primeiro-ministro, António Costa, a ministra da Ciência, Elvira Fortunato, a ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, até à ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, bem como ainda o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas.
Entre os projectos de investigação a apresentar, estará assim o “Knowing Online Hate Speech” (kNOwHATE), que visa combater o discurso de ódio online, através de mecanismos de detecção linguística automáticos. “O principal objectivo é compreendermos quais são as principais características linguísticas e psicossociais do discurso de ódio”, começa por explicar a psicóloga social Rita Guerra, docente do Iscte e uma das responsáveis do kNOwHATE.
A investigadora explica que foram recolhidos milhares de comentários, do YouTube e da rede social X (antigo Twitter), para se obterem exemplos e dados das mensagens deixadas nestas redes sociais e assim identificar os diferentes tipos de discurso de ódio (directo ou indirecto). Agora o trabalho está do lado dos engenheiros informáticos, que estão a “treinar estes modelos, tornando-os modelos de interpretação eficazes”, explica ainda Rita Guerra.
Este projecto exemplifica a junção das áreas das ciências sociais, como a psicologia e a linguística, com as ciências exactas e tecnológicas. Poderá vir a ajudar as instituições a ter intervenções mais rápidas sempre que o fenómeno do discurso de ódio se manifestar nas redes sociais, em órgãos de comunicação ou sites institucionais.
Outro dos projectos a apresentar é o X-PAnDH, consistindo num sistema interoperável de dados de saúde nos países da União Europeia com o objectivo de permitir aos profissionais de saúde acederem à informação dos pacientes a partir de várias fontes. “O que conduz a uma melhor qualidade dos cuidados e a melhores resultados para os doentes”, refere-se no site do projecto. “Tem como objectivo revolucionar a partilha de dados de saúde em toda a Europa.”
Num outro exemplo, o projecto “Ciência de Dados para as Desigualdades Ambientais” pretende utilizar recursos digitais para apresentar propostas de desenvolvimento sustentável junto das administrações públicas locais e regionais, de forma a tornar mais “acessível e transparente” a relação de cidadãos e/ou empresas com as autarquias.
“O meu desejo é que o Iscte sirva de exemplo de abertura das universidades à sociedade e à comunidade”, remata Jorge Costa a propósito do novo centro.
Texto editado por Teresa Firmino