Que inovações, desafios e sucessos no tratamento do cancro do pâncreas?
No Dia Mundial do Cancro do Pâncreas é importante lembrar que esta é uma das doenças mais mortais, com uma taxa de sobrevida aos cinco anos de 17%.
Ao “olhar” para o cancro do pâncreas, é fundamental entender o impacto demográfico e as tendências futuras desta doença, além de discutir as estratégias de tratamento mais promissoras nos nossos dias.
Esta patologia é mais comum em pessoas acima dos 60 anos, embora possa ocorrer em idades mais jovens. Existem também fatores de risco identificáveis, como o tabagismo, a obesidade, a diabetes e um histórico familiar da doença. A incidência varia geograficamente, sendo mais alta em países desenvolvidos. Esta variação pode ser atribuída a diferenças na detecção da doença, fatores de risco ambientais e genéticos.
Estudos recentes preveem um aumento nos próximos anos. Em 2040 prevê-se que seja a sétima causa de morte por cancro a nível mundial. Este aumento pode ser parcialmente atribuído ao envelhecimento da população e a fatores de estilo de vida, como dietas pobres e sedentarismo. Essas tendências ressaltam a urgência de estratégias eficazes de prevenção, diagnóstico e tratamento.
Na prevenção, podem ser aplicadas diversas estratégias, aprimoradas para reduzir o risco de desenvolvimento da doença. Em primeiro lugar, modificando o estilo de vida com a cessação dos hábitos tabágicos. O tabagismo é um dos principais fatores de risco. Encorajar a cessação do tabagismo pode reduzir significativamente o risco.
Em segundo lugar, uma dieta saudável rica em frutas, vegetais e grãos integrais, juntamente com a manutenção de um peso corporal saudável e a prática regular de exercício físico. Em terceiro lugar, o consumo moderado de álcool, uma vez que o seu abuso pode levar ao desenvolvimento de uma pancreatite crónica, que é um fator de risco. Por outro lado, a vigilância de grupos de alto risco — com pessoas com um histórico familiar ou genético de cancro do pâncreas — devem ter um acompanhamento mais precoce, incluindo consultas regulares e exames de imagem.
Perante o panorama preocupante que o futuro nos traça para a incidência do cancro do pâncreas, o tratamento destes doentes implica uma abordagem multidisciplinar. A discussão em reunião multidisciplinar com a colaboração de diferentes especialidades, tais como a Imagiologia, a Oncologia Médica, a Gastrenterologia, a Anatomia Patológica e a Genética Médica, são fundamentais para desenvolver planos de tratamento personalizados e abrangentes, aumentando as hipóteses de sucesso do tratamento e melhorando a qualidade de vida dos nossos doentes. No século que atravessamos, não é aceitável definir uma estratégia terapêutica para um doente que não seja uma consequência de uma discussão multidisciplinar deste tipo.
Sabemos que a cirurgia continua a ser a pedra angular no tratamento. O desenvolvimento de técnicas cirúrgicas minimamente invasivas, tais como a cirurgia robótica e o aperfeiçoamento da precisão cirúrgica em equipas dedicadas, permitem ter a esperança de melhores resultados pós-operatórios e uma maior taxa de sucesso no tratamento de forma a melhorar a sobrevida.
Só unidades hospitalares com equipas multidisciplinares dedicadas a esta patologia podem estar comprometidas em liderar o caminho no tratamento de uma patologia tão complexa como a do cancro do pâncreas. Estas unidades estarão altamente preparadas de forma a oferecer tratamentos eficazes e cuidados diferenciados aos seus doentes se tiverem uma abordagem integrada que combine expertise multidisciplinar, investigação e publicação de resultados, alicerçadas em tecnologia de ponta.
No Dia Mundial do Cancro do Pâncreas é vital reconhecer tanto os desafios impostos por esta doença quanto as oportunidades apresentadas por abordagens de tratamento inovadoras. Através do compromisso contínuo com a pesquisa, a colaboração multidisciplinar e os avanços cirúrgicos, podemos aspirar a um futuro onde se possa tornar mais fácil a gestão do cancro do pâncreas e, eventualmente, torná-lo mais curável.
O autor escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990