No País dos arquitectos: Hotel Rural Monverde

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No 70.º episódio do podcast “No País dos Arquitectos”, Sara Nunes, da produtora de filmes de arquitectura Building Pictures, conversa com o arquitecto Fernando Coelho, do atelier FCC Arquitectura, sobre o Hotel Rural Monverde, na Quinta de Sanguinhedo, em Telões, Amarante.

O arquitecto recorda que, no início do projecto, apenas estava prevista a reabilitação de algumas habitações naquele local, mas ao visitar a propriedade Fernando Coelho anteviu o potencial do lugar: “Aquilo que me propuseram foi a reconstrução de algumas casas para que, quando os clientes chegassem, ficassem lá sem precisarem de ir para os hotéis. (...) Mas, quando cheguei [ao local], achei que havia uma potencialidade incrível. Na altura – normalmente não se deve, mas –, eu, sem a autorização do promotor, fiz um estúdio prévio para um hotel. (...) Um dos sócios agarrou a ideia como modelo e achou-a fantástica. (...) Foi muito engraçado porque aquela casa de amigos transformou-se num hotel.”

A principal premissa do projecto era aproximar a vinha aos espaços do hotel e criar um “ecossistema” capaz de garantir sustentabilidade: “O hotel tem o Green Key, (...) o que significa que tivemos de ter cuidado logo desde o início do projecto e da obra.” A pedra usada no projecto provém do local. Para além disso, foi criado um sistema de reaproveitamento de águas com vista à rega da vinha, assim como a utilização das águas pluviais de forma mais rentável: “Tudo funciona quase num ecossistema.”

Durante a entrevista, Fernando Coelho explica que – como os espaços pré-existentes eram insuficientes para o desenvolvimento do programa – teve de ser desenvolvido um projecto de recuperação e ampliação, aproveitando “as implantações” dos edifícios que “já lá estavam”. No decurso da conversa, o arquitecto faz uma espécie de visita guiada, revelando como os edifícios se fundem agora com a paisagem e criam uma simbiose entre o passado e o presente.

Sobre o Edifício Principal, Fernando Coelho descreve: “[Aquele espaço] funcionava quase como um pátio interior (...) e nós aproveitámos esse conceito para criar uma grande clarabóia.” Actualmente, o edifício destina-se aos serviços de recepção, restaurante, bar e sala de pequenos-almoços. É aí que se encontra também a “Chuva de folhas”, a escultura criada pelo artista Paulo Neves, que remete para o trabalho da vindima. Na instalação vêem-se 365 folhas da videira suspensas trabalhadas em madeira. Cada uma das folhas tem um rosto que simboliza as pessoas que todos os dias do ano trabalham na vinha. Para assinalar os anos bissextos, surge uma folha dourada. Esta não foi a primeira vez que Fernando Coelho e Paulo Neves trabalharam em conjunto. Sempre que possível, o arquitecto procura que, nos seus projectos, haja uma ligação entre a arquitectura e a arte.

Depois de verem a escultura e saírem do Edifício Principal, as pessoas poderão encontrar o Edifício Nascente. Aqui Fernando Coelho inspirou-se na arquitectura vernacular para fazer a reconstrução e a ampliação do mesmo. Para isso, utilizou três materiais: a madeira, o vidro e a pedra (granito e xisto do próprio local). Sobre a pedra, o arquitecto acredita que esta pode influenciar o aroma do vinho: “Estamos numa zona de granito (...) – sei que já me estou a meter em seara alheia, mas também penso que [está relacionado] – e por isso é que o vinho ali é muito interessante. É muito xistoso.”

Ao fazer-se mais um “passeio pela vinha”, chega-se depois ao Edifício Poente e aí o arquitecto aponta para outro detalhe: “Era uma casa da quinta mais pequena, onde se entrava pela antiga cozinha e eu quis que assim continuasse. Deixei [as marcas] e nas paredes ainda se vê o fumo da cozinha.” Preservando a patine do tempo, o edifício foi ampliado e contempla quartos “de tipologias distintas”, sendo um deles o Alpendre, transformado numa das suites do hotel.

O arquitecto Fernando Coelho lembra também a importância do trabalho que realizou em conjunto com o designer de interiores Paulo Lobo: “Eu acho que nem ele, nem eu tomamos nenhuma decisão sozinhos [neste projecto]. E – pelo menos da minha parte, mas também acho que da parte dele – não há aquela sensação de quem fez o quê ou esta ideia de «isto é teu» e «isto é meu». Isso, para mim, é muito importante numa parceria. Se não deixa de ser uma parceria e passa a ser uma competição.”

Pertencente ao grupo da Quinta da Lixa, o Monverde foi o primeiro hotel vínico criado na região dos Vinhos Verdes. Actualmente atrai não só os amantes da arquitectura, mas também aqueles que procuram um refúgio e experiências em torno do vinho e da vinha: seja nos piqueniques, nos passeios, nas provas, nas vindimas, no spa com tratamentos de vinoterapia, ou na participação do programa “Enólogo por um dia”, onde pessoas podem fazer o seu próprio vinho.

Para saber mais sobre o projecto e a sua importância na história e identidade da Região dos Vinhos Verdes, ouça a entrevista na íntegra.

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