Se Maverick, um dogue alemão de 68 quilos, pousar a pata no colo de alguém é porque essa pessoa precisa que o faça. Enquanto cão de terapia, as funções que executa passam por confortar os militares das Forças Armadas dos Estados Unidos e as famílias, pousando a pata sobre a pessoa que está a tentar acalmar.
"Um sinal que identifica um bom cão de terapia é o facto de o animal querer sempre tocar na pessoa", explica Kelly Brownfield, dona de Maverick, que vive em Saint Robert, no Missouri, e é gerente do Fort Leonard Wood United Service Organizations Club, espaço que recebe oficiais das Forças Armadas dos EUA em missões no estrangeiro. "Ele simplesmente sabe do que as pessoas precisam", completa.
Quando um militar morre, Maverick acompanha os filhos aos funerais, e também visita os restantes colegas do exército depois de uma perda inesperada nas unidades. Além disto, todas as semanas, passa tempo com alunos em escolas, especialmente crianças com necessidades especiais.
Apesar de, inicialmente, o cão poder parecer intimidante tendo em conta o tamanho, Kelly afirma que Maverick é "literalmente um gigante gentil". "Toda a aura dele acalma", assegura. Além disso, diz, "tem o tamanho perfeito" para as actividades de um cão terapeuta. "Ele é literalmente a rocha das pessoas; podem apoiar-se nele e ele está lá para elas. E o coração também é assim."
No dia 6 de Novembro, o gigante gentil de seis anos foi seleccionado entre centenas de outros cães e recebeu a nomeação de "cão herói" de 2023 da American Humane, organização sem fins lucrativos de bem-estar animal.
Para os cães receberem o American Humane's Hero Dog Award, a população norte-americana têm a tarefa de nomear, todos os anos, centenas destes animais em cinco categorias: forças de segurança e cães de primeiros socorros; cães de serviço e guia ou de assistência; cães de terapia; cães militares; herói emergente e cães de abrigo. Em Setembro, foi escolhido um vencedor para cada uma e, em seguida, os cinco finalistas passaram a competir pelo título máximo de cão herói.
Maverick, — que venceu a categoria de cães de terapia e derrotou os outros quatro finalistas, incluindo o cão de serviço Moxie, K-9 Buda, da guarda costeira, a heroína emergente Raina e o cão polícia Poppy, — foi seleccionado por um painel de juízes como o vencedor do concurso.
A American Humane é conhecida por garantir que nenhum animal que é utilizado em produções de cinema ou televisão "é prejudicado". A organização tem vindo a atribuir a designação de cão herói desde 2011 a animais que "fazem do mundo um lugar mais gentil", afirma Robin Ganzert, presidente e director executivo. "Pôr heróis de quatro patas que vivem entre nós faz debaixo dos holofotes faz parte dessa missão", acrescenta.
Rick Morris, — antigo sargento-mor que se reformou em 2006, depois de ter servido no Exército dos EUA durante 23 anos, — esteve presente, em Abril, no funeral do sobrinho Rusten Smith que morreu num acidente de helicóptero em Março.
Rusten, tinha 32 anos e três filhos. Maverick esteve ao lado deles na cerimónia de despedida em Saint James. "Ele sabia que eles precisavam de o ver. As crianças agarraram-se a ele", recorda. Rick vive perto do Fort Leonard Wood e vê com frequência o cão em acção, dando apoio aos militares.
"Vejo o peso e o fardo que qualquer soldado está a enfrentar desaparecer quando o vêem. Eles sorriem, animam-se, o rosto muda e a postura corporal também." A par disto, o cão tem sido um apoio emocional para a própria dona, que luta contra um linfoma de células B há seis anos e está a fazer quimioterapia.
"Acredito sinceramente que ele sabia antes de qualquer outra pessoa", afirma Kelly, 43 anos, explicando que o dogue alemão lhe pareceu especialmente carinhoso, sensível e protector nos meses que antecederam o diagnóstico. "Tê-lo presente, especialmente nos dias difíceis, tem sido um apoio fantástico", revela.
Maverick também enfrentou um diagnóstico de cancro em 2022 e foi submetido a uma intervenção cirúrgica bem-sucedida. Neste momento, está livre da doença.
Kelly, que é filha de um militar da Força Aérea e de uma conselheira de orientação do sistema escolar militar no estrangeiro, cresceu na comunidade das Forças Armadas e, em 2009, juntou-se à United Services Organization (USO), para prestar apoio emocional aos militares.
"Posso conciliar o meu amor pelos militares e o meu amor pelos animais", justifica, acrescentando que tem outro dogue alemão que também trabalha como cão terapeuta. Apache, de três anos, pesa uns impressionantes 108 quilos.
Em 2016, Maverick entrou na vida desta mulher, e, afirma, "derreteu-lhe imediatamente o coração". Kelly já teve outros cães de trabalho, e passou um ano a treinar o novo "cão herói" dos Estados Unidos, que passou a fazer o mesmo em 2017. Desde então, tem trabalhado como cão de assistência na USO. O Fort Leonard Wood foi o primeiro centro a iniciar uma versão piloto do Programa Canino da organização em 2012, e foi lançado no resto do mundo este ano.
"Com o Maverick, os militares e as famílias sabem que têm um amigo a quem recorrer quando precisam", adianta J.D. Crouch, chefe executivo e presidente da USO. Um dos pontos fortes do cão é sentar-se com alunos do ensino básico que estão a ter dificuldades em aprender a ler. "Ele não vai estar lá para julgar as pessoas. Ele deixa cair a barreira e faz com que elas evoluam", explica a dona.
Apesar de passar a maior parte do tempo no Missouri, o cão viaja ocasionalmente pelo país em trabalho. Na companhia de Kelly, fizeram centenas de pedidos de missão especial ao longo dos anos.
No dia 4 de Outubro, Kelly e Maverick estiveram na capital norte-americana durante uma semana para divulgar o programa de cães de terapia da USO. O dogue alemão também passou algum tempo com famílias na base militar de Fort Meade e acompanhou algumas pessoas até às campas dos seus entes queridos no cemitério nacional de Arlington. Segundo a dona, ter um cão de terapia por perto "pode ajudar a mudar vidas", já que o animal "sente o que cada pessoa precisa."
Para celebrar o título de cão herói da American Humane de 2023, Maverick e os outros quatro finalistas vão a Palm Beach, na Florida, para um espectáculo de entrega de prémios, que vai acontecer a 23 de Novembro, Dia de Acção de Graças, e 26 de Novembro, no canal de televisão A&E.
"É uma maneira fantástica de mostrar o bem que os animais podem fazer", resume a dona.
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post