Todos os anos o Natal chega mais cedo. O consumismo exacerbado enche as prateleiras com coroas, ramos, grinaldas, bolas, estrelas, anjos, Rodolfos, camisolas, pijamas, babygrows, meias com gatos sorridentes de cachecol vermelho e mais parafernália desnecessária.
Sem cair em falsos moralismos, por que não aproveitar o temporão Natal para examinar hábitos de consumo?
O acto desenfreado de dar e receber presentes tem ofuscado o significado do Natal. Em vez de uma celebração do amor, da família e da solidariedade em mesas recheadas de bacalhau com todos, rabanadas e filhós, o Natal transformou-se numa corrida apressada às lojas, gerando desperdícios e impactos ambientais negativos.
É apreciar os contentores do lixo no dia seguinte para constatar os "presentes-lixo" que o planeta receberá. Ano após ano, a humanidade é possuída por uma versão moderna do espírito insano de Dionísio. Pelo menos, uma parte da humanidade. Há mulheres, homens e crianças cuja principal preocupação é sobreviver.
Podemos adoptar uma abordagem mais consciente sem renunciar ao espírito natalício moderno. Um ponto de partida é reconsiderar a relação com os presentes. Em vez de se perder no frenesi de compras, que tal priorizar lembranças com significado? Presentes artesanais ou feitos à mão. Para além de se reduzir o desperdício, acrescenta-se um toque pessoal.
Outra maneira de abraçar a sustentabilidade neste Natal é promovendo a reutilização e o reaproveitamento. As decorações, por exemplo, podem ser feitas com objectos encontrados em casa, como vidros, garrafas e tecidos antigos, em vez de comprar (mais) adereços descartáveis. Reduz o desperdício e acrescenta um toque único à decoração. E poderá constituir uma excelente oportunidade para afastar as crianças dos ecrãs e promover o convívio familiar.
Devemos considerar a moda sustentável como uma alternativa elegante e consciente. Optar por roupas feitas com materiais sustentáveis, como algodão orgânico ou fibras recicladas, é uma forma de apoiar essa indústria, enquanto reduzimos o impacto ambiental. Até mesmo a reutilização de roupas antigas pode ser uma forma de expressar o seu estilo pessoal de maneira mais amiga do ambiente.
Em Julho de 2023 foi anunciada em França a criação de um programa para subsidiar as reparações de vestuário e calçado, com o objectivo de reduzir o desperdício e a poluição causada pela indústria têxtil. As ajudas variam entre seis a 25 euros, conforme a necessidade de reparação das peças de vestuário, calçado ou acessórios.
A empresa privada ecológica no ramo têxtil Refashion ficou responsável pelo projecto, motivando as pessoas a reparar e reutilizar as suas roupas, a reduzir a quantidade de vestuário que compram e a doar o que já não utilizam. Eis uma sugestão para o governo luso; talvez também acredite na segunda vida das roupas e sapatos, em oposição ao fast fashion.
Em termos de sustentabilidade, é bom recordar que não se trata apenas de consumir conscientemente, mas também de olhar para quem tem menos. Considera doar roupas, alimentos ou o seu tempo a organizações de caridade locais. A generosidade esquecida é a essência do espírito natalício.
O Natal e a sustentabilidade não são incompatíveis; podem coexistir. Devem. Podemos preservar a alegria das festividades enquanto fazemos escolhas mais conscientes em relação ao nosso consumo. Ao optar por presentes significativos, reutilizar e apoiar a moda sustentável, estamos a dar passos importantes em direcção a um Natal mais equilibrado e sustentável.
O convite é iluminar não apenas a árvore de Natal, mas também o futuro do planeta. Celebremos esta época anunciada mais cedo, com compaixão, reflexão e um compromisso renovado com a sustentabilidade. Temos mais tempo para pensar sobre isso. E mais tempo para agir.