Pode ser angustiante ver um cão a tremer ou a ganir enquanto dorme uma sesta numa tarde de chuva, mas isto significa que está a sofrer ou, até, que tem pesadelos?
Os cães têm ciclos circadianos semelhantes aos humanos e, por isso, também podem "pensar" enquanto dormem, ora em coisas positivas, ora em coisas negativas, explica Sónia Miranda, veterinária e membro da direcção executiva da Ordem dos Médicos Veterinários.
Com base na evidência científica, “sabe-se que os sonhos caninos acontecem na fase REM [movimento rápido do olho] em que se dão os movimentos oculares, uma manifestação nítida de que está a haver um sonho”, começa por esclarecer.
Além dos movimentos oculares, há outros sinais que indicam que o cão pode estar a sonhar. A posição corporal — deitado de lado —, a respiração profunda, algumas vocalizações “muito típicas” semelhantes ao ladrar, mas mais baixo. Estes sons “denotam claramente que o animal está a dormir, mas a sonhar”, sublinha a médica veterinária. Há ainda animais que tremem ou começam a ganir durante o sono.
Perante estes cenários, “os tutores ficam preocupados porque não percebem o que se está a passar”, mas não há grande coisa a fazer. Não sendo uma situação que ponha a saúde do animal em risco — comportamentos “demasiado exagerados”, “agressividade” ou alguma “situação convulsiva” durante o sono — o ideal é deixar o cão dormir.
Tal como nós não gostamos de ser acordados pelo despertador quando estamos a dormir bem, acordar um cão a meio da sesta pode “trazer uma reacção inesperada”. Dependendo da raça e da personalidade dos cães, pode até provocar-se “uma situação de alguma agressividade”, por isso, “é preciso ter algum cuidado”, adverte a veterinária.
Embora não se saiba exactamente com o que sonham os cães, podemos “deduzir” e “comparar” com os humanos: o mais provável é que imaginem cenários do dia-a-dia. De facto, há estudos que sugerem que experiências sociais positivas antes de dormir influenciam positivamente o sono, enquanto que experiências sociais negativas fazem com que os cães fiquem mais ansiosos, tal como nós.
Sónia Miranda aconselha que se procure ajuda de um especialista em comportamento animal ou de um médico veterinário com formação específica na área caso os comportamentos durante o sono sejam repetidamente demasiado intensos, ao ponto de não deixarem os tutores dormir, por exemplo.
Na maior parte das vezes, “em princípio, trata-se de uma situação perfeitamente regular”. Talvez seja só hora de um beijo de boa noite.