A hora muda na madrugada de sábado para domingo
Quando muda a hora? Na madrugada de sábado para domingo. Cientistas defendem que mudar a hora duas vezes por ano não faz sentido. Tentativa de abolir a mudança na UE continua congelada.
- Mas a mudança horária não ia acabar?
- Cátia Reis: “A nossa fisiologia responde ao sol, não ao relógio de pulso”
Não se esqueça de acertar os relógios na madrugada de sábado para domingo: a hora muda de dia 28 para dia 29 de Outubro, “ganhando-se” uma hora. Às 2h da manhã, os ponteiros do relógio recuam 60 minutos e passam a marcar 1h em Portugal continental e na Madeira. Nos Açores, a mudança é feita à 1h, passando os relógios a marcar 00h. Esta mudança devolve-nos ao horário de Inverno (UTC), o que só mudará a 31 de Março de 2024.
Em 2018, houve uma tentativa de abolir a mudança horária: a proposta foi feita pela Comissão Europeia com o intuito de abolir a mudança horária nos países da União Europeia e acabou por ter a concordância do Parlamento Europeu em 2019. Mas, para entrar em vigor, faltaria a posição favorável do Conselho da União Europeia — que nunca chegou a acontecer. Contactado pelo PÚBLICO, o Conselho da União Europeia confirmou que não houve novos desenvolvimentos sobre este tema desde então.
A decisão fora tomada depois de um inquérito online em que responderam cerca de 1% dos cidadãos da UE. Nesse inquérito, só 0,33% dos portugueses votaram e a grande maioria (79%) disse estar a favor de manter o horário de Verão para sempre. Ainda assim, o Governo português anunciou na altura que pretendia manter a mudança horária duas vezes por ano. A decisão também não bate certo com a posição defendida por muitos profissionais de saúde e especialistas do sono, que pedem que se fique sempre na hora de Inverno por ser a mais próxima da hora solar e, logo, originar menos complicações de saúde.
“Os argumentos cronobiológicos para abolir a mudança horária e para adoptar permanentemente a hora padrão [hora de Inverno]” já está bem documentada, lê-se num estudo publicado em 2022 na revista Journal of Biological Rhythms, sobre a percepção pública relativa à mudança da hora. O mesmo defende a especialista na área do sono e em ritmos biológicos Cátia Reis, em entrevista ao PÚBLICO: “Temos de pensar acima de tudo naquilo que é melhor para a nossa fisiologia. Vários estudos já demonstraram evidências nos problemas que advêm do facto de retirarmos a luz de manhã.”
Mudança acontece há mais de um século
A mudança da hora duas vezes por ano faz-se há mais de 100 anos em Portugal e em vários países do mundo, havendo também discussões para abolir este sistema nos Estados Unidos e no Canadá. Pelo meio há até alguns casos mais caricatos, como o do Líbano, que acordou em Março com dois fusos horários por causa de uma disputa entre as autoridades políticas e religiosas.
Na Noruega, por exemplo, um grupo de investigadores tentou aprofundar qual a opinião pública sobre a mudança da hora e o impacto do cronótipo (a preferência natural de dormir e de acordar de uma pessoa, influenciada pela genética) e da localização geográfica nesta percepção. Receberam respostas de mais de 47 mil noruegueses: destes, 78,2% preferiam acabar com a mudança da hora, havendo 61,5% dos inquiridos a preferirem manter sempre a hora de Inverno e 29,1% a preferirem ficar na hora de Verão.
Qual seria a solução preferida do ponto de vista da ciência? “Deixar de mudar, sem dúvida. A mudança provoca perturbações circadianas”, responde o investigador e principal autor do estudo publicado em 2021 com os resultados do inquérito, Bjorn Bjovatn, em respostas enviadas por email ao PÚBLICO. Certo é que “tanto os cientistas como o público devem ser ouvidos”, defende, não desvalorizando o bem-estar e as oportunidades de lazer da população. Ainda assim, o especialista na área do sono e professor na Universidade de Bergen acredita que mudar a hora duas vezes por ano já não faz sentido e que os impactos na saúde devem ter um peso primordial na decisão de abolir ou não a mudança da hora.